Número dois da Venezuela alerta Portugal

Diosdado Cabello disse que o Governo português está ‘a pôr em perigo a vida dos seus concidadãos’. Maduro mostrou-se disposto a reunir com o Grupo de Contacto da UE.

Um dia depois do Grupo de Contacto Internacional para a Venezuela ter pedido, na sua primeira reunião, no Uruguai, ao Governo de Nicolás Maduro que convoque «eleições livres e democráticas», o Executivo venezuelano reagiu com pau e cenoura. Diosdado Cabello, número dois do partido no poder, alertou os países que pedem o reconhecimento de Juan Guaidó como Presidente interino, incluindo Portugal, que estão a «pôr em perigo os seus concidadãos». O Presidente da Venezuela optava pela via apaziguadora: «Estou pronto e disposto a receber qualquer enviado do Grupo de Contacto», afirmou em conferência de imprensa.

«Seja bem-vindo o Grupo de Contacto da União Europeia, embora lhes digo desde já que estou totalmente em desacordo com a parcialidade e a ideologização em que caíram», disse o chefe de Estado aos jornalistas em Caracas. Maduro garantiu estar «preparado para dialogar onde seja, quando seja e seja com quem for», quer «pessoalmente, de forma direta» ou através de «enviados especiais».

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Um tom conciliador bem diferente do utilizado por Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Constituinte, que alertou Portugal e Espanha e as suas comunidades imigrantes na Venezuela para o perigo que correm. «Governos como o de Espanha e Portugal, que abertamente apelam à intervenção militar na Venezuela e que são capazes de reconhecer um indivíduo que, segundo eles, é Presidente, e que pedem o seu reconhecimento e pensam que podem fazer um ultimato à Venezuela, estão a pôr em perigo a vida dos cidadãos portugueses e espanhóis», afirmou Cabello. «Não há bombas que digam ‘esta bomba só mata os chavistas’», explicou, porque «quando os Estados Unidos decidem bombardear as populações, não tem escrúpulos em relação a isso».

Para o Governo de Maduro, a reunião do Grupo Contacto acabou por não resultar num aliviar da tensão, tal como esperavam. México e Bolívia, que promoviam uma agenda mais branda para o Executivo venezuelano, acabaram por ficar isolados na reunião do Uruguai, não assinando mesmo a declaração final. Andrés Manuel López Obrador e Evo Morales pretendiam que a UE, e particularmente Portugal e Espanha, que são quem maiores comunidades imigrantes têm no país, alinhassem num apelo sem condições ao diálogo entre Maduro e Guaidó, o autoproclamado Presidente interino (reconhecido por mais de 40 países). A maioria dos presentes, entre eles Portugal, não prescindiu da exigência de novas eleições.

O Mecanismo de Montevideu, proposto por Bolívia e México, desdobrava-se em quatro etapas: 1) início do diálogo e fixação de condições; 2) negociação; 3) compromisso e assinatura de acordos; 4) concretização dos acordos com acompanhamento internacional. Como em nenhum momento falava em eleições, foi rejeitado pelos outros países presentes e por Federica Mogherini, a chefe da diplomacia da UE.

O Grupo de Contacto acabou por dar ênfase, na sua declaração final, às eleições e ao respeito pelos poderes da Assembleia Nacional, de que Guaidó é presidente. «E é também muito importante que a declaração política desta reunião diga expressamente que nós afastamos, como solução justificável, qualquer uso da força, qualquer violência, seja ela provocada internamente ou externamente», sublinhou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, à saída da reunião, citado pela Antena 1.