A moda das trotinetas chegou em força e promete tornar-se um dos meios de transporte mais usados pelos portugueses. As mais-valias do seu uso são óbvias, quer para o bolso, quer para o ambiente ou para poupança de tempo, mas a verdade é que as trotinetas têm sido notícia pelos piores motivos. Há pouco mais de uma semana, por exemplo, a PSP deteve 12 pessoas numa operação de fiscalização a bicicletas e trotinetas por todo o país, seis das quais por excesso de álcool, numa intervenção cujo objetivo era prevenir acidentes.
Também recentemente, acompanhando a tendência, começaram a surgir os primeiros estudos sobre o fenómeno e as conclusões apontam para a perigosidade do ‘novo’ meio de transporte: desde o final de 2017, nos Estados Unidos, registaram-se 1542 feridos em acidentes com trotinetas. Em Portugal, os números mostram que, com o aparecimento de novas empresas a disponibilizarem estes veículos, também os acidentes têm vindo a aumentar: de acordo com dados avançados ao SOL pela PSP – que contemplam todas as cidades da responsabilidade daquela força de segurança -, em 2017 registaram-se nove acidentes envolvendo trotinetas, enquanto em 2018 se verificou um total de 19. Dos acidentes ocorridos em 2017 resultaram dois feridos graves, seis leves e danos materiais. Já os acidentes do último ano provocaram 12 feridos leves e sete casos de danos materiais.
O SOL contactou também a GNR, que tem competências nesta matéria fora das localidades, para ter uma perceção mais alargada do fenómeno, mas, em resposta, a GNR informou que não descrimina os acidentes com trotinetas dos acidentes que envolvem velocípedes em geral.
Com o escalar das ocorrências, há uma pergunta que se impõe: as empresas de trotinetas têm seguros? Mais: são obrigadas a tê-los? Fonte oficial da PSP esclarece que não há essa obrigação legal, mas ao que o SOL apurou as empresas que operam nas várias cidades portuguesas têm seguros.
Neste momento, as trotinetas que já circulam em território português pertencem à Lime, à Bungo, à Hive, à Voi, à Iomo e à Wind, mas o número, especialmente em Lisboa, pode vir a aumentar, segundo Miguel Gaspar, vereador com o pelouro da Mobilidade na Câmara de Lisboa, que admitiu existirem 13 empresas interessadas em ter trotinetas elétricas na capital. O SOL contactou as seis empresas que apostaram em território português, mas recebeu resposta apenas de duas.
A sueca VOI foi uma delas e assegura ter chegado às ruas de Lisboa já com seguro. «Desde o início da nossa operação em Portugal certificámo-nos de que dispomos da cobertura de seguros adequada à nossa atividade», explicou ao SOL a marketing manager Sara Karim, especificando que a empresa tem «seguro de responsabilidade civil e de danos pessoais». Depois de ter começado a operar em Lisboa em dezembro de 2018, a 11 de fevereiro expandiu-se para Faro, tornando-se o primeiro operador de trotinetas com atividade em duas cidades portuguesa.
Operadoras com seguros
A empresa começou a sua atividade com 300 veículos, mas «tem vindo a aumentar a frota de acordo com o aumento da procura mas também com as características específicas da cidade, por forma a assegurar um crescimento sustentável», acrescentou ainda a responsável, que por motivos estratégicos preferiu não revelar o número total de utilizadores. A registar não houve, pelo menos por enquanto, qualquer acidente envolvendo trotinetas da VOI nas duas cidades.
Por sua vez, a brasileira Bungo – que chegou ao país há um mês e tem 100 trotinetas na rua e já mais de sete mil downloads da aplicação – opera apenas em Lisboa, mas isso, garante o responsável João Pedro Candido, não significa que a segurança seja descurada. «A Bungo tem o seguro que foi acordado junto da Câmara de Lisboa e do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) como o ideal para o serviço», até porque a empresa está a implementar «uma expansão para diversas cidades menores», devendo vir a «anunciar algo nas próximas semanas», acrescentou João Pedro Candido. E o seguro já teve de ser acionado? Não, garante Candido: «Não temos registos alguns de acidentes envolvendo as Bungos. Em Lisboa operamos principalmente em zonas com ciclovias, como Belém, Saldanha ou Parque das Nações, o que minimiza bastante o risco». Outro elemento que pode ajudar a manter a contagem no zero é o facto de a Bungo ter uma equipa «nas ruas a ensinar como andar de trotineta», nota.
Multas e patrulhas
Ainda que não tenha sido possível chegar à fala com a Lime até ao fecho desta edição, o SOL sabe que também esta empresa – a primeira a chegar ao país, em outubro de 2018, com uma frota de 200 a 400 trotinetas -, tem um seguro contratualizado. À NiT , no início da atividade, o diretor da Lime em Portugal, Luís Pinto, garantiu que «todos os utilizadores estão cobertos por um seguro global durante as suas viagens, que cobre a pessoa em caso de acidente». Por isso, caso o pior cenário se verifique, «os utilizadores devem contactar a linha de apoio de 24 horas: 308 800 684», explicou ainda à mesma publicação. Depois de Lisboa, a Lime está este mês a preparar a expansão para Coimbra, onde dará os primeiros passos a partir de março com um frota de 200 a 400 trotinetas. E planeia também partir para outras paragens, que se mantêm para já em segredo. Apesar do sucesso, contudo, a empresa tem estado no centro de uma polémica relacionada com o mau estacionamento das trotinetas, que impedem muitas vezes a circulação nos passeios – podendo mesmo causar acidentes – e já motivaram diversas queixas de moradores, às quais a autarquia não ficou indiferente. Já este mês, a CML prometeu, se necessário, limitar o estacionamento dos veículos de duas rodas em locais próprios, tendo ainda revelado que pediu à PSP e à Polícia Municipal que multem as trotinetas paradas em cima do passeio, tal como se tratassem de carros ou motas. Em resposta, a Lime anunciou a criação da ‘Patrulha Lime’, uma equipa de 15 pessoas com a função de estacionar bem as trotinetas deixadas pelo caminho em zonas não autorizadas ou que perturbem a circulação 24 horas por dia.