O desporto, principalmente o futebol, continua a ser rei e soberano em Portugal. Há quem diga que é esta forte ligação dos portugueses a esta prática desportiva que justifica sentimentos de paixão ou, no extremo oposto, até de violência. Agora, um estudo da Ohio State University garante que as consequências desta relação intensa podem ir além do que muitos pensam.
De acordo com esta análise, a equipa ganhar pode simplesmente significar um aumento da auto-estima dos adeptos, que dura até, pelo menos, dois dias depois do evento.
No entanto, os adeptos das equipas perdedoras não sofrem necessariamente os efeitos contrários. O estudo mostra que, ainda que possa existir uma alteração no humor, não existem necessariamente problemas de auto-estima.
Silvia Knobloch-Westerwick, uma das professoras responsáveis pelo estudo, evidencia que, “para os adeptos das equipas vencedoras, foi o aspeto de poder partilhar a vitória com os outros que permitiu esta diferença na auto-estima”. A professora acrescenta ainda que, por outro lado, no caso dos adeptos das equipas perdedoras, “partilharem a dor pode ter permitido que se protegessem desta perda de auto-estima”.
Para chegarem a estas conclusões, os especialistas analisaram o comportamento de 174 estudantes das universidades de Ohio e Michigan. Foram acompanhados antes e depois de um jogo. De forma a que não suspeitassem do verdadeiro motivo do estudo, foram informados de que o estudo era sobre “bem-estar e atividades de lazer”. A ideia era que não pudessem alterar as respostas de forma a influenciar os resultados.
Em termos gerais, pode dizer-se que os resultados mostraram que os adeptos têm uma razão muito forte para assistir frequentemente aos jogos: O impulso que recebem na auto-estima, caso estejam a apoiar a equipa vencedora. Fica ainda claro para este grupo de pesquisadores que o jogo é mais recompensador quando é partilhado com amigos: “é querer estar nisto com outras pessoas. Na vitória ou na derrota, é melhor ser adepto junto de amigos”.
E a violência vem de onde?
Os episódios de violência sucedem-se e o IPAM não deixa dúvidas: “Os programas televisivos são os principais influenciadores do tom negativo gerado à volta do futebol”.
Ainda que exemplos não faltem, não é necessário recuar muito no tempo para encontrarmos situações em que o desporto e a violência deram as mãos. Há pouco tempo, por exemplo, o Sporting revalidou o título de campeão da Taça da Liga, mas o que deveria ser acompanhado de festa e fair play acabou por ficar marcado pela postura de Diamantino Figueiredo, treinador de guarda-redes dos dragões, filmado a tentar agredir um adepto do Sporting. A somar a este episódio está ainda, a título de exemplo, o momento em que adeptos, alegadamente embriagados, invadiram o campo de futebol e agrediram um jogador no decorrer de um jogo do Campeonato Popular, em Barcelos.
A verdade é que episódios desta natureza têm vindo a repetir-se com frequência e o número de detenções por violência no desporto tem vindo a subir. Os dados mais recentes mostram mesmo que, entre as épocas 2016/17 e 2017/18, a PSP e a GNR contabilizaram 5878 incidentes, a maioria dos quais aconteceu nos estádios do Sporting, Benfica e FC Porto.
A questão da violência associada ao desporto levou mesmo o governo a garantir, no início do ano, que pretende aplicar sanções com mais transparência e, sobretudo, mais rapidez. “Há muito tempo que a lei prevê sanções acessórias que são, por exemplo, a interdição de acesso a recinto desportivo”, explicou João Paulo Rebelo, secretário de Estado do Desporto e da Juventude. Mas, se é visível que a situação tem estado a piorar, será conhecida a razão? De acordo com um estudo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), divulgado em janeiro, a razão de tanta violência associada ao desporto é fácil de entender e o inimigo está identificado: “Os média portugueses não promovem notícias positivas sobre o futebol.”
Depois da análise feita a vários meios de comunicação social nacionais, ficou a saber-se que, por exemplo, os programas televisivos têm influência nos adeptos, mas de uma forma negativa. “De forma global, o estudo do IPAM concluiu que os temas mais abordados foram de atualidade (31%) e de transferências do mercado de janeiro e os resultados (22%), em comparação com as entrevistas a atletas, dirigentes ou treinadores (19%) ou os destaques mais polémicos (6%). Na semana analisada [7 a 13 de janeiro], os temas da ordem do dia foram a jornada da semana, especialmente o jogo entre o Sporting e o FC Porto, a dúvida sobre o novo treinador do Benfica, a entrevista do presidente do SLB, Luís Filipe Vieira, ao programa televisivo da Cristina Ferreira, ou as várias transferências de jogadores e treinadores. Ao nível das polémicas foram repetidamente repescados casos como o processo dos emails, e-toupeira, dúvidas sobre a arbitragem, Apito Dourado ou a presidência de Bruno de Carvalho”, esclarece a análise. O IPAM refere ainda que o tom que costuma ser dado a notícias sobre o futebol nacional é “maioritariamente neutro ou negativo”: “Relativamente ao tom adotado pelos média portugueses durante esta cobertura noticiosa, ele foi maioritariamente neutro (68%), mas também negativo (22%), apesar da atualidade desportiva do momento. Apenas 10% dos média revelaram ter uma abordagem positiva a notícias dedicadas ao futebol nacional.”
E os programas de televisão que se dedicam ao tema? De acordo com o IPAM, “são os principais influenciadores do tom negativo gerado à volta do futebol nacional”.
Com a certeza de que os conteúdos televisivos sobre o desporto nem sempre ajudam, muitos podem considerar que a solução é simples: acabar ou, para os menos radicais, moderar a aposta que vem a ser feita nos últimos tempos. No entanto, importa referir que são os programas polémicos que ajudam as contas das televisões. Há em Portugal uma realidade inegável: o futebol continua a liderar a tabela dos mais vistos na televisão portuguesa. As polémicas desportivas continuam a colar os espetadores ao ecrã, independentemente do tom que é usado.