Sem surpresa, Assunção Cristas viu chumbada na passada quarta-feira a segunda moção de censura do partido ao Governo de António Costa. Os votos da esquerda e do PAN ditaram o resultado, mas a novidade foi a estratégia do PSD: votou ao lado do CDS, mas Fernando Negrão, o líder parlamentar, não usou da palavra, nem tão pouco os sociais-democratas esgotaram os tempos para intervir.
A estratégia causou estranheza ou até algum incómodo dentro da bancada social-democrata, mas Fernando Negrão explicou ontem, citado pela TSF, que o seu partido «sempre foi um defensor da estabilidade governativa».
As explicações do PSD a defender que a moção não teria efeitos práticos – «cartuxo de pólvora seca», segundo o vice do PSD David Justino – não abalaram a líder centrista, que começou o debate a reclamar o papel de líder da oposição, sem o dizer com todas as letras. «Ainda bem que há o CDS para fazer oposição! Ainda bem que há o CDS para usar todos os instrumentos parlamentares ao dispor da oposição!».
E, de facto, o PSD ficou praticamente fora das atenções do primeiro-ministro. António Costa classificou a iniciativa do CDS como um «ato falhado» que reforçaria, inclusive, a «credibilidade internacional do governo».
E o Executivo quis sair do debate com a ideia de que tinha recebido um voto de confiança do Parlamento. Recebeu sim, mas a esquerda deixou-lhe vários alertas, designadamente o PCP, com o líder parlamentar, João Oliveira, a perguntar pelas alterações ao código laboral e com quem é que o PS as quer negociar. Catarina Martins, coordenadora do BE, avisou Costa de que ainda tem tempo, nesta legislatura, para negociar mais «alguns avanços» porque o Bloco não faltará à chamada. A dirigente bloquista insistiu que o PS não deve negociar com a direita parlamentar.
Do lado dos centristas, Cristas ainda sugeriu a Costa se queria trocar de papéis e o primeiro-ministro teve resposta pronta: «Senhora deputada, não vale a pena, já vimos».
Tanto o PS como o Bloco atacaram a «encenação» da moção e a «cortina de fumo» criada pela líder do CDS por causa da venda do Pavilhão Atlântico. O caso, noticiado pela TVI, está em investigação e envolve a operação de venda do espaço a Luís Montez, genro de Cavaco Silva, sob a alçada política de Assunção Cristas. A própria já veio dizer que nada tem a esconder e negou qualquer favorecimento ao genro do ex-Presidente da República, numa entrevista ao site Polígrafo.
A decisão de avançar com uma moção de censura para antecipar as legislativas foi tomada no final da semana da passada, tendo a líder do CDS informado Marcelo Rebelo de Sousa na véspera.