Os salários, as regras na pesca e as mudanças constantes nas quotas são apenas alguns dos indicadores. O facto é que, desde 2001, o número caiu a pique, para metade.
De acordo com um trabalho feito pela Lusa, a pesca é cada vez mais encarada como uma atividade mal paga e instável. De acordo com Miguel Cardoso, presidente da Olhão Pesca, os fatores são diversos, mas levam todos ao mesmo sítio. “No Algarve, o turismo e a náutica de recreio têm crescido exponencialmente e há muitos pescadores que se estão a virar para esse ramo de atividade", disse à Lusa o responsável pela Organização de Produtores de Pescado Algarve, sublinhando que existem já embarcações paradas por falta de tripulação.
Num levantamento de dados da Portada fica claro que existem, em Portugal, 17 642 pescadores. Entre 2001 e 2017, o número caiu 56%.
Já em 2015, o alerta era sério: Portugal precisava de pescadores. "O setor chegou à conclusão que não tem condições para trabalhar devido às atuais exigências”. Era então pedido bom senso aos governantes. O setor estava em “rutura” e a falta de mão de obra já era um problema muito debatido entre os mais interessados em garantir um futuro viável.
As piruetas na pesca de sardinha
Um dos temas mais debatidos nos últimos tempos tem sido a pesca de sardinha. Em julho do ano, a questão voltava a fazer estalar o verniz e Ana Paula Vitorino viu-se obrigada a tomar posição de forma a acalmar os ânimos. "A sardinha tem vindo a diminuir paulatinamente na nossa costa e para se conseguir cumprir o primeiro objetivo temos de garantir que as capturas são de modo a que continuemos a ter sardinha no futuro", sublinhou a responsável pela pasta do Mar, acrescentando que é a solução deve ser encontrada no equilíbrio entre a captura e a sustentabilidade. E relembra: “A sardinha faz parte da cultura dos portugueses e da economia".
No centro desta polémica esteve um parecer científico aconselhava o fim da pesca da espécie já em 2018. O governo resistiu e começou, desde cedo, a dizer que se tratava de um recurso de interesse estratégico. Para os pescadores, o alerta era um insulto.
O alerta chegava da parte do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES), que considerava importante travar a captura da espécie de forma a fazer face à redução acentuada do stock na última década.
De acordo com a entidade científica consultada pela Comissão Europeia, o caminho a fazer não podia ser mais claro: “Deve haver zero capturas”. Na base da avaliação do ICES está o facto de o stock ter vindo a decrescer a um ritmo muito acelerado: de acordo com o organismo, passou de 106 mil toneladas em 2006 para 22 mil em 2016.
Até porque, para o ICES, mesmo que não existisse pesca, seriam necessários cerca de 15 anos para que o stock de sardinha chegasse a um nível considerado “acima do limite de biomassa desovante adequado”.
O alerta não foi bem recebido no setor e obrigou a Comissão Europeia a esclarecer que não foi tomada qualquer decisão em relação à pesca em Portugal e Espanha. No entanto, o parecer bastou para criar polémica e obrigou o Ministério do Mar a reagir de forma a assegurar a continuação do “empenhado em manter a pesca de sardinha em níveis que permitam a recuperação”. Até porque “a sardinha é um recurso de interesse estratégico para a pesca nacional, cuja sustentabilidade ambiental, económica e social importa garantir, atento o impacto deste recurso nas comunidades piscatórias, na indústria conserveira e comércio de pescado, nas exportações do setor, na gastronomia e no turismo”.