O conjunto de países do Grupo de Lima decidiu ontem, em Bogotá, que no caso da Venezuela “não estamos perante um dilema de guerra e paz” e que a hipótese de intervenção militar estrangeira, pedida pelo autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, não se coloca. O presidente colombiano, Iván Duque, anfitrião da reunião, pediu antes “novas decisões sobre o cerco diplomático à ditadura da Venezuela”.
O presidente da Assembleia Nacional venezuelana, que esteve presente em Bogotá, escreveu no domingo que “os acontecimentos” do fim de semana o “obrigaram a tomar uma decisão: apresentar à comunidade internacional de maneira formal que devemos ter abertas todas as opções para lograr a libertação” da Venezuela. A formulação “abertas todas as opções” foi lida como a hipótese de recorrer à força para derrubar o governo de Nicolás Maduro – algo que foi posto de lado pelos países do grupo, receosos de abrir um precedente para a ingerência militar num país soberano num continente que tem história de várias ações do género patrocinadas pelos EUA.
“O uso da força não é uma solução para o que está a acontecer na Venezuela. Vimos lutando para que a solução seja pacífica. Não apoiamos o uso da força”, afirmou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros peruano, Hugo de Zela, que chefiou a delegação do seu país por ausência do ministro Martín Vizcarra, que está em Portugal para uma visita oficial, antes de seguir para Espanha.
“Reafirmámos uma e outra vez o nosso compromisso com a transição democrática e o restabelecimento da ordem constitucional na Venezuela”, afirmou, por seu lado, Carlos Holmes Trujillo, ministro dos Negócios Estrangeiros colombiano.
Antes, Guaidó, sentado ao lado de Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, sublinhou que “é importante recuperar a democracia na Venezuela porque quem hoje usurpa o poder ameaça a estabilidade do continente”. Nas suas palavras, “ser permissivo com a usurpação de poder seria uma ameaça para toda a América”.
O pedido do uso da força foi secundado pelos EUA. “Aos líderes de todo o mundo: chegou a hora”, afirmou Pence, para quem “não pode haver espetadores na luta da Venezuela pela liberdade”. A posição de Washington é clara: “Nicolás Maduro é um usurpador sem legitimidade para reivindicar o poder e Nicolás Maduro tem de sair.”
Pence anunciou, entretanto, que os EUA irão implementar sanções contra três governadores de estados fronteiriços da Venezuela, membros do círculo mais próximo de Maduro, que Washington responsabiliza pela resposta violenta deste fim de semana à tentativa de entrada do comboio de ajuda humanitária enviada pelos norte-americanos. “Estes homens agiram para bloquear a ajuda para pessoas que precisam e reprimiram protestos pacíficos. As suas ações não ficarão impunes”, explicou o vice-presidente dos EUA. De acordo com o governo colombiano, o governo venezuelano e a organização de beneficência Foro Penal, os confrontos em Táchira, na fronteira com a Colômbia, e em Bolívar, na fronteira com o Brasil, resultaram em quatro mortos e mais de 370 feridos.
Juan Guaidó garantiu entretanto que não está na Colômbia exilado e que tinha previsto regressar ontem à noite ao seu país. “O presidente Guaidó regressa à Venezuela depois da sua participação no Grupo de Lima. Detiveram-no uma vez, mas libertaram-no logo a seguir. Vai regressar. Maduro é capaz de qualquer coisa, mas o presidente Guaidó regressa à Venezuela”, afirmou o deputado José Olivares, em resposta a uma pergunta do site de notícias argentino Infobae.
Em Caracas, Nicolás Maduro enviava através do Twitter uma mensagem aos Estados Unidos e seus aliados: “O império e os seus lacaios devem entender que na Venezuela reina a autodeterminação do nosso povo. Os problemas, vamos resolvê-los em união nacional, com o governo bolivariano a que presido”.
Este domingo, o chefe de Estado apelara aos seus apoiantes para “não baixarem a guarda” face à hipótese de uma intervenção militar: “O povo está unido nas ruas, mobilizado e alerta em todos os cantos do país. Apelo aos homens e mulheres de boa vontade para que não baixem a guarda e se mantenham na luta para preservar a paz da Venezuela”, escreveu também no Twitter.
Maduro classificou o concerto e a ajuda humanitária como um plano de Donald Trump para invadir o país e apelou à comunidade internacional para denunciar e repudiar a política “guerreira e intervencionista” do governo dos EUA.