“A corrupção tem a gravidade de ser o crime que corrói o Estado de direito democrático”

Joana Marques Vidal esteve à conversa com a TSF

Joana Marques Vidal, a antiga Procuradora-Geral da República foi, esta sexta-feira, uma das entrevistadas da Emissão Especial da TSF que decorreu no Cinema São Jorge e falou sobre a criminalidade económico-financeira e a corrupção em Portugal.

Interrogada pela TSF sobre se o poder político está empenhado no combate a este tipo de crime, a ex-PGR relembrou que "há uma preocupação – claro – como tem sido assumido pelos diversos titulares dos cargos políticos."

“Não há, em Portugal, uma estratégia nacional de combate à corrupção. Quando se fala numa estratégia nacional, passa por várias áreas, não é só centrar essa estratégia no funcionamento do poder judicial. Que, já agora, tem obviamente falta de recursos, meios e conhecimentos para combater a corrupção como deve ser", defende Marques Vidal.

"É essencial haver uma cultura cívica de cidadania, que diga não de uma maneira interiorizada, à corrupção. Isso passa por uma maior transparência, por não considerar normal que se dê conhecimento a amigos de cadernos de encargos – isto acontece, infelizmente, em muitos sítios em Portugal. Há uma normalização de um determinado tipo de comportamentos e práticas que vão contra a transparência e que põem em causa o funcionamento do Estado de direito", disse ainda a antiga Procuradora-Geral da República.

Joana Marques Vidal defende ainda que é absolutamente necessário "haver uma cultura de dizer 'não'. Passa, obviamente, pelos próprios cidadãos, mas passa também pela atitude dos poderes públicos face a esse problema. Já agora, peço desculpa, mas perguntam-me: a corrupção é o crime mais grave em Portugal? Há crimes que atingem os valores pessoais, muito mais graves. O tráfico de seres humanos é muito mais grave. O abuso sexual é muito mais grave. Mas a corrupção tem a gravidade de ser o crime que corrói o Estado de direito democrático".

"A corrupção corrói, é essencial para o estado de Direito a luta contra a corrupção", concluiu.