O autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, expressou esta semana o desejo de «nos próximos dias» regressar ao seu país. Espera-se que o faça até segunda-feira, mas Guaidó corre o risco de ser detido pelas autoridades assim que pisar solo venezuelano. «Ele vai enfrentar a Justiça, a Justiça proibiu-o de abandonar o país», disse Nicolás Maduro, em entrevista à ABC News. «Vou regressar a Caracas esta semana», disse por sua vez Guaidó em entrevista à televisão NTN24, referindo que o seu «papel e dever é estar em Caracas apesar dos riscos».
O gabinete do procurador-geral e o Supremo Tribunal ordenaram a abertura de uma investigação sobre alegados crimes cometidos por Guaidó desde que se autoproclamou Presidente e começou a desafiar a legitimidade democrática de Maduro. Antes de se autoproclamar, o Supremo Tribunal já tinha ordenado uma investigação às declarações do líder da oposição aquando da sua investidura como Presidente da Assembleia Nacional venezuelana – desde 2017 sem poderes – por apelar aos militares que «repusessem a democracia» no país. As suas palavras foram entendidas como apelo a um golpe de Estado.
O mais elevado órgão judicial venezuelano proibiu Guaidó de abandonar o país até mais desenvolvimentos na condução das investigações. Guaidó saiu do país no sábado passado, quando atravessou a fronteira venezuelana para entrar na Colômbia e juntar-se à ajuda humanitária.
O autoproclamado Presidente está numa posição política bastante sensível. Depois de a entrada da ajuda humanitária na Venezuela, o maior desafio à autoridade de Maduro, ter falhado, Guaidó ficou completamente dependente do apoio internacional. Na reunião do Grupo de Lima de segunda-feira passada, chegou inclusive a pedir aos seus parceiros internacionais, como a Colômbia, Chile e EUA, que interviesse militarmente no país – cometendo o crime de traição de acordo com o Código Penal venezuelano. «Os acontecimentos de hoje [sábado passado] obrigam-me a tomar uma decisão: propor formalmente à comunidade internacional que devemos manter abertas todas as opções», disse Guaidó no Twitter.
O Grupo de Lima recusou o uso da força para resolver a crise política no país. Na sua declaração política pós reunião, pediu a intervenção do Tribunal Penal Internacional e voltou a reforçar o desejo de «eleições livres e justas, abertas à participação de todas as forças políticas, com acompanhamento e observação internacional».
Com a oposição numa encruzilhada, Guaidó fez um périplo por vários países latino-americanos para reunir apoios para as suas futuras ações. O primeiro a visitar foi a Colômbia, com quem Maduro cortou relações diplomáticas, tendo-se encontrado com o chefe de Estado colombiano, Iván Duque. O autoproclamado Presidente foi recebido com honras militares, tradicionalmente reservadas a chefes de Estado.
Depois, Guaidó dirigiu-se para o Brasil, onde se reuniu com embaixadores da União Europeia e com o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Ao contrário do seu homólogo colombiano, Bolsonaro não concedeu honras militares a Guaidó, o que causou surpresa, uma vez que Brasília é um dos seus principais apoiantes. «Seu país pode contar connosco para a recuperação económica», garantiu o Presidente brasileiro a Guaidó, acrescentando estar disposto a tudo fazer «dentro da legalidade» para afastar Maduro do poder. «Já te chamo de irmão de agora em diante, se assim me permite», disse Bolsonaro, com Guaidó a responder-lhe que procura «apoio para a transição». Ontem, o autoproclamado Presidente encontrou-se com o chefe de Estado do Paraguai, Mario Abdo Benítez. E deve regressar em breve ao país onde nasceu.