Fruto dos dias que correm e da espuma que marca estes novos tempos, a cerimónia dos Óscares está sem beleza, sem elegância, sem glamour, sem graça, sem interesse.
Tirando o dueto de Lady Gaga e Bradley Cooper, num momento único na apresentação daquela que haveria de ser galardoada com a estatueta para melhor canção original (Shallow), o gesto cavalheiresco de Chris Evans e o discurso divertido de Olivia Colman, o espetáculo foi um hino aos complexos, à falta de gosto, à mediocridade.
Dizem os medidores de audiências que a 91.ª cerimónia de entrega dos Óscares teve um aumento mundial de assistência superior a 14%. Pois sim. Se é mesmo verdade, mais foram os que puderam testemunhar no que se tornou um dos maiores eventos do espetáculo mundial com a rendição e submissão total ao politicamente correto. Deprimente.
Parece que as estrelas perderam definitivamente o brilho.
Que Hollywood está em crise.
Que o cinema agoniza.
E, porém, não é exatamente assim.
Tal como, se é verdade que o mundo da moda perdeu ultimamente algumas das suas maiores figuras, dos seus maiores criadores ou criativos, olhando para aquela passadeira vermelha e para aquele teatro, até parece que atores, cantores, músicos, realizadores, produtores e um sem número de vedetas da 7.ª Arte já não inspiram os estilistas da alta costura. Ou estes decidiram cortar-lhes na casaca.
Mulheres vestidas como se vestiam os homens, homens com vestidos que eram de mulheres, crianças vestidas à velho e adultos vestidos como meninos, passou a haver de tudo. Até mulheres que parecem repolhos, com folhos para todos os (maus) gostos, ou homens armados em chouriços. Enfim.
A passadeira vermelha perdeu o glamour. Perdeu os vestidos e os fatos elegantes que faziam sobressair a beleza dos protagonistas da arte que mais nos levava ao mundo dos sonhos. Excepção para Lady Gaga – com o seu vestido preto e o cabelo apanhado a fazer sobressair o colar com um enorme diamante amarelo usado há décadas por Audrey Hepburn.
No mais, a Academia preocupa-se sobretudo ou quase exclusivamente em não hostilizar nenhum dos lóbis dominantes e determinantes do chamado mainstream.
Por causa das coisas, não houve nem um negro a desenrolar a passadeira vermelha enquanto as câmaras filmavam e fotografavam os preparativos finais para a grande noite.
Por causa das coisas, o apresentador era para ser um negro, mas o facto de no passado ter contado umas piadas homofóbicas levaram a Academia a fazê-lo tomar a iniciativa de se afastar.
Está tudo pensado e controlado ao milímetro. No pior sentido.
Por isso, ainda bem que Regina King tropeçou no vestido quando se preparava para receber o Óscar de melhor atriz secundária – permitiu-nos apreciar a delicadeza e cavalheirismo de Chris Evans com o gesto imediato de estender o seu braço à atriz para esta se apoiar enquanto se recompunha e subia os degraus que os separavam do palco. Machismo, há quem diga. Seja.
Por isso também, ainda bem que Olivia Colman ganhou o Óscar para melhor atriz principal, porque foi dos poucos discursos da noite verdadeiramente descomplexados, com espontaneidade, simplicidade e piada.
O resto foi uma parolice. Assim ao jeito dos reality shows que encharcam as televisões e das saloiadas que, por cá e pelos vistos em todo o mundo, dão audiências.
Tão politicamente corretos, tão alinhados pelos lóbis dominantes e pelas modas dos novos tempos, os Óscares até podem ser feitos de ouro que estão transformados em plástico.
E o mundo está saturado de plástico, esse lixo.