Bolsonaro publica vídeo pornográfico e pergunta: “O que é golden shower?”

Chefe de Estado critica o Carnaval com vídeo que desata polémica. Ator José de Abreu vai autoproclamar-se presidente do Brasil na sexta-feira

É capaz de ser a primeira vez que se viu um presidente da República partilhar publicamente um vídeo para maiores de 18 anos e perguntar diretamente “o que é golden shower?”. Jair Bolsonaro desatou uma polémica no meio de outra polémica, depois de se envolver numa troca de mensagens agressivas com Daniela Mercury, por causa da redução de impostos a empresas que patrocinam projetos artísticos.

Alargando-se nas críticas ao próprio Carnaval, o chefe de Estado brasileiro publicou um vídeo na sua conta oficial de Twitter que levou a rede social a colocar a advertência de “material sensível”. O vídeo mostra um homem quase nu a enfiar o dedo no ânus, primeiro, e depois um outro homem a urinar-lhe na cabeça.

Escreve Bolsonaro: “Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isso que têm virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro.”

A publicação do presidente desatou um rol de críticas, afirmações de vergonha alheia e até pedidos de impeachment, desde o seu upload na terça-feira à noite. Na quarta-feira, o chefe de Estado voltou ao tema com uma pergunta que mereceu muitas respostas irónicas: “O que é golden shower?”

Respondendo desde já à questão, golden shower ou chuva dourada é o ato de urinar sobre alguém com fins de excitação sexual, precisamente aquilo que se via no vídeo publicado pelo presidente e que deu origem a uma hashtag que se tornou rapidamente viral: #goldenshowerbolsonaro.

O ator José de Abreu, o autoproclamado presidente do Brasil que marcou para esta sexta–feira, no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, o seu juramento de bandeira, respondeu à pergunta com ironia: “Golden shower é um termo em inglês para se referir a cheques depositados na conta da primeira dama, referentes ao pagamento de um suposto empréstimo de 40 mil reais para quem movimentou 7 milhões de reais em três anos, presidente. Chove ouro!”

Como escreve o colunista Tony Goes na “Folha de S. Paulo”, “o Carnaval não foi bondoso com Jair Bolsonaro”, alvo de muitas críticas e até de latas de cerveja (em Olinda, um boneco gigante com a sua cara foi atingido com várias), e o presidente resolveu responder a essas críticas “postando duas mensagens totalmente indignas de alguém que ocupa o posto mais elevado da República”. Para Goes, o presidente brasileiro “preferiu criar um clima de pânico moral, dando destaque a um incidente isolado e insignificante”, ao mesmo tempo que fazia “propaganda negativa” da “maior festa popular” do Brasil.

Daí que, além da hashtag referida, se tenham tornado popular outras, uma delas muito significativa: #impeachmentBolsonaro. Quem defende o afastamento de Bolsonaro considera que a publicação dos tweets referidos prefigura um “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”. A professora de Ciência Política Mara Telles lembrava isso mesmo numa mensagem enviada ao presidente através do Twitter em que citava o artigo 9.o da lei que “define os crimes da responsabilidade e regula o respetivo processo de julgamento” e dizia: “Olha aí, Presidente: improbidade que chama?”

Um dos muitos comentários negativos ao comportamento do presidente, assinado por JGHardt, dizia: “Só sei que isso é uma conta oficial de um PRESIDENTE NACIONAL, E O MESMO USA TAL COMO SE FOSSE UM ADOLESCENTE QUERENDO ATENÇÃO!” O senador Humberto Costa, do PT de Pernambuco, chamou “patético” ao presidente no Twitter. 

As críticas ao presidente e ao governo mereceram até advertências da Polícia Militar que, em Minas Gerais, avisou o tradicional bloco de Carnaval Tchanzinho Zona Norte para não criticar o chefe de Estado. O capitão Lisandro Sodré, do 13.o Batalhão de Belo Horizonte, disse explicitamente que “trios e blocos não podem incitar manifestações políticas”, num verdadeiro contrassenso do que é o espírito do Carnaval. Claro que a ordem não foi acatada e o presidente virou alvo do grito tornado também hashtag #bolsonarovaitomarnocu.

O Carnaval deste ano não deixou de ser fortemente político mesmo os políticos não querendo, com a Mangueira a estampar o rosto de Marielle Franco, a vereadora do Rio de Janeiro assassinada, e a contar a história dos heróis da resistência negra e indígena. Em São Paulo, a Vai-Vai também construiu o seu enredo com base nas lutas dos negros no Brasil e contou com a participação no desfile da filha de Marielle Franco, Luyara Santos, e da irmã, Anielle Franco.