No seu discurso perante os novos fuzileiros navais do Rio de Janeiro, esta quinta-feira, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, deixou um vislumbre do papel que pretende para as forças armadas, garantindo que no Brasil “democracia e liberdade só existe quando a sua respetiva forças armadas assim o quer [sic]”.
A afirmação de Bolsonaro, capitão paraquedista na reserva, é reforçada pelo facto de todos os ministros da presidência serem generais do exército, à exceção do chefe da Casa Civil, Ónix Lorenzoni. Os militares ficaram com um peso ainda maior na composição do Planalto após a demissão de Gustavo Bebianno, ministro da Secretaria-Geral. É de notar que o atual governo brasileiro chega a ter uma maior percentagem de militares do que a maioria dos governos do período da ditadura militar.
Além disso, Bolsonaro propôs no seu discurso criar uma nova “retaguarda jurídica” para que os militares possam “exercer os seus trabalhos”, particularmente em “missões extraordinárias”.
A referência a “missões extraordinárias” da tropa fora do atual enquadramento legal traz à memória os fantasmas da ditadura militar brasileira, cujas forças armadas agiam com completa impunidade, matando e torturando opositores políticos – um regime político de que Bolsonaro é confesso admirador, tendo chegado a afirmar ser “favorável à tortura”, garantindo que durante a ditadura “só morriam marginais”, e reafirmado a sua admiração por esse período enquanto presidente.
Essa visão a preto-e-branco da sociedade brasileira foi reforçada no discurso de Bolsonaro perante os militares, com a afirmação de que a “missão” do seu governo será cumprida ao lado “das pessoas de bem”, dos que “amam a pátria” e “respeitam a família”, garantindo estar ao lado “daqueles que querem uma aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa” – uma referência aos países com governos de direita na América Latina como Colômbia, Paraguai e Chile, assim como aos Estados Unidos e a Israel, que partilham uma abordagem unilateral de que o Brasil se tem aproximado, em detrimento de iniciativas das Nações Unidas.
Corrupção Houve desenvolvimentos num escândalo de desvio de fundos públicos que já derrubou, o mês passado, o ministro Gustavo Bebianno, responsável pela candidatura à presidência de Bolsonaro pelo Partido Social Liberal (PSL). Em causa estarão alegadas candidaturas laranja (fictícias) para desvio de fundos eleitorais.
Foi confirmada pela “Folha de S. Paulo” a denúncia no Tribunal Eleitoral de Minas Gerais por Zuleide Oliveira, candidata a deputada estadual, contra Marcelo Álvaro Antônio, atual ministro do Turismo. Álvaro Antônio terá pedido que Zuleide assinasse o requerimento dos fundos e dito à falsa candidata que tinha de “repassar para a gente 45 mil reais (cerca de 10,5 mil euros)”, dos 60 mil reais (cerca de 14 mil euros) que esta receberia. Zuleide é a sexta candidata laranja revelada. O total desviado dos fundos eleitorais é de pelo menos 348 mil reais (cerca de 90 mil euros).