Federer homenageia campeões esquecidos

Esta análise lúcida só é possível por o ‘campeoníssimo’ ser um estudioso da história

Federer admitiu ao L’Équipe que Rafael Nadal (vencedor de 17 Majors) e Novak Djokovic (campeão de 15) venham a superar o seu recorde de 20 títulos do Grand Slam.
 
«Há muito tempo que acho isso. Como os pisos são hoje em dia mais uniformes, pode-se ganhar mais títulos do Grand Slam. Provavelmente essa foi a razão que permitiu-me ultrapassar Pete Sampras (14). Se repararmos, nos anos 70, os jogadores não ligavam a esses recordes. Se estivessem mais preocupados, teriam jogado mais tempo. Talvez agora os jogadores joguem mais para os recordes. Os meus recordes serão batidos».
 
Esta análise lúcida só é possível por o ‘campeoníssimo’ ser um estudioso da história.
 
Federer recusa tomar o seu tempo como o melhor de sempre e não desrespeita o passado. Não admira que tenha sido ele a fundar a Laver Cup.
 
No ténis esta veneração sincera é rara e por isso se ouve e lê que os três melhores tenistas de sempre coincidem na atualidade.
 
Não contesto tal asserção, mas constato que outros poderão ter sido igualmente grandes e caíram no esquecimento. “RF” chamou a atenção para dois pontos importantes.
 
O primeiro refere-se às condições de jogo. Nos anos 80 e 90 do século passado era mais difícil um mesmo jogador ganhar distintos Majors porque as diferenças dos pisos e das bolas eram mais radicais.
 
A relva de Wimbledon era muito mais rápida, a terra batida de Roland Garros era substancialmente mais lenta. O Open da Austrália tinha uma relva mais lenta do que a de Wimbledeon e quando passou para o Rebound Ace era um hardcourt mais lento do que o atual Plexicushion.
 
Era mais fácil haver especialistas de um determinado piso. Hoje os jogadores apresentam mais características de ‘todo o terreno’.
 
O segundo ponto refere-se aos objetivos em determinada era. Jimmy Connors queria ser n.º 1 e ganhar torneios. Bjorn Borg era obcecado pelo Grand Slam (ganhar os quatro Majors no mesmo ano) e como nunca venceu o US Open, desistia do Open da Austrália (na altura jogava-se depois), tendo atuado apenas uma vez em Melbourne. John McEnroe apostava tanto em singulares como em pares.
 
Antes da Era Open havia ainda o problema de os jogadores serem proibidos de competirem nos torneios do Grand Slam quando passavam a profissionais. Rod Laver esteve cinco anos ‘banido’ dos Grand Slams.
 
E na primeira metade do século XX houve duas guerras mundiais que travaram muitas carreiras.
 
Don Budge, para mim um dos maiores de sempre, tornou-se profissional aos 23 anos e não mais jogou no Grand Slam. E aos 27 alistou-se na Força Aérea. O que poderia teria sido noutras circunstâncias!