No dia 24 de julho de 1979, a manchete do “Diário de Lisboa” era uma pergunta: “Quantas mulheres vão para São Bento?”. Ainda na primeira página, o jornal anunciava que, para além de Maria de Lurdes Pintasilgo, o governo poderia vir a ser constituído por “algumas das mulheres da intelligentzia portuguesa numa experiência sem precedentes nos governos da República”.
Maria de Lourdes Pintasilgo, que foi indigitada pelo Presidente da República, Ramalho Eanes, foi até hoje a única mulher que exerceu o cargo de primeira-ministra em Portugal. Em 45 anos de democracia, aumentou bastante a participação das mulheres na vida política, mas alguns cargos cimeiros continuam a ser ocupados em exclusivo por homens. Nenhuma mulher chegou à presidência da República e apenas uma vez a presidência da Assembleia da República foi exercida por uma mulher. Curiosamente, Assunção Esteves, que exerceu o cargo entre 2011 e 2015, só foi eleita depois de os deputados terem chumbado duas vezes o nome de Fernando Nobre.
No poder local, o cenário também não é animador. As duas maiores câmaras do país, Lisboa e Porto, nunca tiveram uma mulher eleita como presidente. Dos 308 municípios do país, apenas 32 mulheres foram eleitas, nas últimas autárquicas, para a presidência.