Decorreu nos passados dias 24 e 25 de fevereiro, no Egito, a Cimeira UE-Liga Árabe. Em princípio, dado o alto nível do evento e as complexas situações por que passam esses ‘blocos’ vizinhos, seriam de esperar passos decisivos para, segundo o nosso primeiro-ministro, voltar a «fazer do Mediterrâneo um espaço de paz e cooperação».
Essa história longínqua, que vem da Grécia Clássica, Alexandre, a Biblioteca de Alexandria, Cartago e Aníbal, o Império Romano de Marco Aurélio Trajano e Adriano e, após as invasões bárbaras, a avançada e inclusiva civilização árabe na Península, até à chamada Reconquista e aos Descobrimentos ibéricos, não devia estar só nas recordações de um português.
Contudo, lamentavelmente, essa cimeira veio a reduzir-se a um tremendo silêncio europeu sobre a sua realização. Porquê?
Primeiro, porque a UE foi para ela ‘a mando’ dos EUA, para tentar ocupar um espaço que o Império já perdeu nesse grande palco do Médio Oriente e com o sentido de dar prosseguimento às suas políticas agressivas e destruidoras das últimas décadas; depois, porque os países árabes, apesar das dificuldades e contradições internas por que ainda passam, estão a caminho de um novo patamar de autonomia e colaboração relativamente às tentativas externas da sua submissão.
Os episódios televisivos em que, num, o primeiro-ministro do Luxemburgo realça os direitos dos homossexuais e, no outro, o Presidente Al-Sisi do Egito reage em defesa do modo de viver árabe contra as tentativas se colonização cultural (e jurídica) externa, simbolizam, pelo pior, a arrogância europeia naquela cimeira.
Assim, só teremos a esperar que, até à próxima cimeira marcada para 2022, a UE continue a sofrer as consequências da armadilha da ‘reorganização do Médio Oriente’ em que os EUA a fez cair: migrações massivas, terrorismo interno e decomposição política.
Estão em causa os interesses vitais da UE. E tal não acontece por ‘culpa’ dos países árabes, dos otomanos, dos persas ou, mesmo, da Rússia. A ‘culpa’ está na própria UE e no seu seguidismo subserviente relativamente aos EUA.
Quando, já depois da supra referida cimeira, no programa Circulatura do Quadrado de 28 de fevereiro passado, com a participação do MNE, José Pacheco Pereira referiu, em estilo dialogante e construtivo, os tremendos erros da UE quando promoveu intervenções militares e grupos armados que deram origem às grandes organizações terroristas, e que Portugal, relativamente à Venezuela, em vez de uma política de prudência, se limitou a seguir as posições americanas, o MNE de Portugal, manteve um comprometido e absoluto silencio…
Este problema não parece ser, pois, só da UE, mas também de Portugal.
Recomendaria, portanto, ao MNE que lesse, com atenção e sentido crítico, o livro de Franco Nogueira O Juízo Final, muito elucidativo quanto à explicação de Portugal e à forma de lidar com os assuntos internacionais, na perspetiva dos interesses nacionais.