Aconteça o que acontecer, certo é muito pouca gente ter ficado entusiasmada com a venda do Novo Banco e as condições impostas pelo modelo de negócio.
Sabia-se que a Lone Star tomava conta de um problema e aproveitava uma oportunidade adequada à sua especial vocação de recuperar os ‘non profit loans’, os ativos desvalorizados, vendendo-os bem.
Sabia-se que a ideia do Fundo de Resolução e a responsabilidade em que estava constituído não era do agrado dos Bancos envolvidos.
Sabia-se que a esquerda da esquerda teria preferido (e ainda pretende) a nacionalização do Banco.
Talvez que, para muitos, a presunção de se tratar do Banco Bom aliviasse o stress.
Ora, a verdade acaba de ser declarada com estrondo.
A operação de divisão entre Banco Mau e Banco Bom foi, na sua essência, uma máscara para produzir um Mau e um Péssimo.
Isso mesmo se traduz nos continuados prejuízos que o Novo Banco vem sofrendo ano após ano.
O que o ministro das Finanças vem agora dizer é ter sido essencial à obtenção da melhoria dos ratings de Portugal, particularmente quanto às preocupações com o mal parado dos Bancos.
E vem acrescentar que a atividade do Fundo, a contingência ativa que representa, não levará dinheiro dos impostos mas se esgotará em empréstimos a longuíssimo prazo que o Fundo toma do Estado e na contribuição direta dos demais Bancos.
Um sossego, portanto.
As taxas de juro praticadas em relação ao país beneficiaram das notações e o jogo subsequente das taxas cobradas pelos empréstimos ao Fundo refletem-nas.
Uma visão tecnicamente elaborada que resulta na valorização da sua própria atividade e da do governo no qual se inclui.
E um argumento político, Uma forma de acentuar como o equilíbrio do sistema financeiro foi um défice da ação do anterior Governo.
Não diz a verdade toda, o ministro, nem lhe convém dizê-la.
O peso das consequências do controle dos desequilíbrios orçamentais e da consecução da saída limpa que o próprio partido socialista exigia, não deixava espaço para esta outra frente.
A ausência do acordo europeu quanto aos Fundos de Resolução, além do mais, impediam qualquer avanço.
Saída conseguida, acordo alcançado, estavam criadas as condições para o êxito do ministro.
Estava ele, portanto, no momento certo e no sítio certo.
A questão do contributo exigido aos portugueses para suportar as decorrências desta aventura novobancária é mais discutível.
O euro que se não vai buscar aos bolsos dos portugueses já deles saiu por outra via.
É certo que os Bancos necessitaram de, por um conjunto de exigências em que se viram envolvidos, pedir um esforço maior aos seus depositantes e utilizadores.
Aumentaram preços de serviços e comissões.
Esta pertença ao Fundo e a remuneração dos empréstimos são mais uma peça no conjunto, uma pedra no sapato.
Os bancos se encarregam de ir buscar aos bolsos do povo pagante o euro que não sairá dos impostos.
Felizes, sempre, porque não têm outro recurso, os portugueses agradecem a consideração tida em conta.
E, assim, pode subsistir o slogan anunciado de ‘Nem mais um euro de imposto para o Novo Banco!’
É fácil, é barato e dá milhões.