O mais recente vencedor do Pritzker mora num «modesto apartamento» em Naha, a capital de Okinawa, para onde, depois de doar a sua vasta biblioteca, se mudou em 2017 em busca de um clima mais ameno. A descrição foi feita pelo New York Times, que esteve com o Arata Isozaki logo após ter sido anunciado, na terça-feira, que era dele o Priztker deste ano. Aos 87 anos, Isozaki, que entre os seus pares japoneses ganhou o epíteto de «imperador», descreveu assim ao jornal norte-americano qual a sensação de vencer o mais importante prémio de arquitetura do mundo: «Estou radiante». E, logo de seguida, completou: «[Este prémio] é como se fosse uma coroa em cima da minha lápide», acrescentou, revelando um sentido de humor já conhecido, mas difícil de descortinar na expressão geralmente impassível com que posa para as fotografias.
Entre as razões apontadas para a consagração do arquiteto – também um conhecido professor e teórico de arquitetura – estão a sua especial apetência para fundir os paradigmas do este e do oeste, para lá de ter conseguido levar ao mundo a influência japonesa. O seu trabalho, escreveu um júri, demonstra um «conhecimento profundo não só da arquitetura mas também da filosofia, história, teologia e cultura». Mas apesar de todo esse conhecimento, Isozaki abraçou a vanguarda, e «nunca se limitou a replicar o statu quo; a sua procura de uma arquitetura significativa reflete-se nos seus edifícios, que até hoje desafiam categorizações de estilo, que estão constantemente a evoluir e são sempre refrescantes na sua abordagem». Isozaki, cuja carreira mistura artes visuais, filosofia, teatro, escrita e design, é o oitavo japonês a receber o ‘Nobel’ da Arquitetura.
«O meu conceito de arquitetura é que é invisível», explicou esta semana ao NYT, que recebeu vestido com um impecável quimono de seda. «É intangível. Mas acredito que possa ser atingido através dos cinco sentidos».
Nascido na ilha de Kyushu, em 1931, cresceu num Japão dilacerado pela guerra, o que terá contribuído para a sua determinação de levantar, através dos edifícios, o país. Licenciou-se em arquitetura em 1954, pela Universidade de Tóquio, e começou a exercer ao lado de um mestre – Kenzo Tange, vencedor do Pritzker em 1987 pelo seu trabalho na arquitetura do pós-guerra e o primeiro japonês a ser distinguido com o prémio.
Pouco mais de uma década depois, estava a fundar o seu atelier, Arata Isozaki & Associates.
Começou então a depurar o seu próprio estilo – uma das suas características é, efetivamente, não ter ficado preso a nenhum, embora os críticos, que o apelidam de visionário, vejam na sua obra as influências de nomes como Le Corbusier ou Louis I. Kahn. A dada altura chegou ao conceito central japonês ma, que significa a imersão do espaço e do tempo, descreve o jornal nova-iorquino. «Como o universo, a arquitetura vem do nada, torna-se alguma coisa e, eventualmente, torna-se em nada de novo», disse o japonês a propósito de uma exposição que organizou em 1987.
Assinou obras por todo o mundo. Entre as mais icónicas contam-se o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (1986), que foi a primeira encomenda que recebeu fora do Japão. Seguiram-se projetos como o Palau Sant Jordi – Estádio Olímpico de Barcelona (1992); ou mais recentemente o Palácio dos Desportos de Turim (2006) e o Centro Nacional de Convenções do Qatar (2011). No Japão, é dele a Biblioteca Central de Kitakyushu (1974) ou o Museu de Arte Moderna de Gunma (1978). E entre os mais de cem projetos que desenvolveu nunca escondeu que tinha um preferido e que, por sinal, está bem longe do Japão e à mão de semear dos curiosos portugueses: trata-se do museu Domus. Casa del Hombre, na Corunha (Espanha), de 1995.
A cerimónia de atribuição do prémio – o 46.º -, que no ano passado tinha sido entregue ao arquiteto indiano Balkrishna Doshi, vai realizar-se em maio, em França. Recorde-se que Portugal tem dois nomes na lista de vencedores do Pritzker: Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura.