Em campos opostos desde sempre no que à Venezuela diz respeito, Rússia e Estados Unidos vão-se encontrar esta semana em Itália para discutir a crise política que se vive no país. “As posições de Moscovo e de Washington nesta questão são diametralmente opostas, mas isso não é razão para não se falar”, disse vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Ryabkov, citado pela agência russa Interfax.
Os Estados Unidos têm sido os principais aliados de Juan Guaidó, autoproclamado presidente da Venezuela, e imposto duras sanções a Caracas, instando os seus aliados a fazerem o mesmo. O presidente norte-americano, Donald Trump, chegou inclusive a apelar, à margem de uma Assembleia-Geral da ONU, aos líderes latino-americanos que apoiassem uma intervenção militar no país, vendo o seu pedido ser liminarmente recusado. Com a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência brasileira e de Juan Duque para a da colombiana, a relação de forças no subcontinente alterou-se significativamente em desfavor do regime de Nicolás Maduro. Já a Rússia é um dos principais aliados de Maduro, tendo destacado equipas de segurança para proteger o chefe de Estado venezuelano e oferecido “assistência técnica” na ordem de 100 toneladas de medicamentos.
Por seu lado, Maduro tem acusado Guaidó e Washington de prepararem uma intervenção militar externa no país, com a queda da energia a ser, no entender do chefe de Estado, o mais recente ataque dos seus opositores. Na semana passada, a Venezuela viveu o maior apagão da sua história – seis dias -, com o caos a instalar-se no país e pessoas a morrerem – inexistência de tratamentos médicos por falta de eletricidade. A eletricidade foi gradualmente reposta no país, mas nem por isso Maduro deixou de encarar o sucedido como um ataque informático organizado por Washington. Ao ataque informático junta-se ainda a hiperinflação, falta de alimentos e imigração de milhões de venezuelanos para os países vizinhos.
Sabendo que o regime ficou bastante vulnerável, o presidente venezuelano está a preparar uma “reestruturação de fundo” para o seu governo, segundo a vice-presidente Venezuelana, Delcy Rodriguez. “O presidente Nicolás Maduro pediu a todo o governo que coloquem as suas funções em revisão para uma reestruturação profunda dos métodos e funções do governo bolivariano”, escreveu a número dois de Maduro no Twitter, acrescentando que a reestruturação tem como finalidade “proteger a pátria de Bolívar e de Chávez de qualquer ameaça”.