Dez de março de 2019 é uma data que vai ficar para sempre gravada na vida daquele que é considerado por muitos o melhor jogador de snooker de todos os tempos. A proeza foi já conseguida por muitos praticantes deste desporto: embolsar o número de bolas consecutivas até atingir, pelo menos, 100 pontos. O que nunca ninguém tinha alcançado até hoje era o marco histórico de o fazer mil vezes durante a carreira. De facto, o segundo melhor resultado pertence ao escocês Stephen Hendry, já aposentado, que totalizou 775 ‘centuries’.
Na final do Players Championship, frente ao australiano Neil Robertson, O’Sullivan venceu o último parcial por 10-4, tendo dado a tacada final com a mão esquerda, levando o público ao delírio. Mas se a milésima entrada centenária foi conseguida aos 43 anos, foi com apenas dez que somou pela primeira vez mais de cem pontos numa só jogada. Nessa época vivia com a família em Essex, cidade onde cresceu. A aptidão para o snooker sempre foi notória, de tal forma que o pai lhe comprou uma mesa para que pudesse praticar e, desde então, nunca mais parou.
Aos 15 anos tornou-se no mais jovem praticante a realizar uma entrada máxima, que significa que o jogador conseguiu embolsar todas as bolas na mesma jogada, perfazendo um total de 147 pontos. E por falar em recordes, tem também a assinatura de O’Sullivan o melhor ‘break’ da história do snooker. Durante o Campeonato do Mundo de 1997, frente ao também inglês Mick Price, cinco minutos e vinte segundos foi o tempo necessário para que atingisse a pontuação máxima. A velocidade com que realiza o seu jogo valeu-lhe o título de ‘Rocket’.
Conhecido por ser algo temperamental, essa condição não impede o jogador de conquistar fãs um pouco por todo o mundo. Ray Reardon, vencedor de seis Campeonatos do Mundo de snooker, é um deles, e refere que vê em O’Sullivan «um génio». O antigo praticante da modalidade – agora já retirado – tornou-se mentor do desportista em 2004 e não escondeu nunca a admiração que sente pelo inglês. «É o melhor jogador que já vi. Consegue ler o jogo melhor do que ninguém, muito melhor do que eu lia», disse ao jornal britânico Mirror. Nesse mesmo ano, o «efeito calmante» que Reardon disse ter tido sobre Ronnie O’Sullivan surtiu efeito, levando-o a alcançar o título de bicampeão mundial.
O lado negro dos anos 90
O percurso profissional parecia correr-lhe de feição, mas nem só de conquistas se faz a vida de O’Sullivan. Nos primeiros anos da década de noventa, e com apenas dezasseis anos, viu o pai ser preso, acusado de matar um homem. Dezassete anos mais tarde, por ocasião da libertação de Ronald O’Sullivan, Ronnie defendeu o pai, afirmando que este teria estado «no sítio errado, à hora errada e que [aquele] não foi certamente um homicídio premeditado.»
Três anos mais tarde foi a vez de a mãe do desportista ser presa, acusada de evasão fiscal.
Corria o ano de 1996 quando O’Sullivan foi acusado por Alain Robidoux de desrespeito, depois de usar a mão esquerda em várias jogadas. Na mesma época foi ainda acusado de agressão ao assessor de imprensa Michael Ganley, o que lhe valeu uma multa de cerca de trinta mil libras.
Dois anos mais tarde venceu o Torneio Irish Masters, mas viu ser-lhe retirado o título, depois de um teste de controlo de drogas ter acusado a presença de canábis.
Se é verdade que os anos noventa não terminaram em beleza, com a viragem do milénio, a vida de O’Sullivan parece melhorar: em 2001 é pela primeira vez campeão do mundo, proeza que repete em 2004, 2008, 2012 e 2013.
Mas as habilidades de O’Sullivan não se ficam por aqui. O jogador também dá cartas na literatura, tendo já publicado duas autobiografias e três romances.
Drogas e vitórias
Com um historial ligado à depressão, o jogador conta no seu livro Running, de 2013, como conseguiu enfrentar os obstáculos que lhe foram surgindo no caminho: o papel de relevo que as drogas e o álcool tinham na sua vida e a importância que Steve Peters, o seu psiquiatra, tem no seu percurso até hoje.
Em declarações ao Mirror, Steve Peters – que surgiu na vida do jogador há oito anos – garantiu que O’Sullivan «trabalhou muito nas suas capacidades mentais, coisa que continua a fazer hoje em dia», tornando-se a determinação num dos seus pontos fortes, e que é essencial para que continue a brilhar no snooker.
«É mais determinado agora do que antes [e] aprendeu a ganhar perspetiva sobre as coisas».
Neste momento, finaliza ainda o médico, parece haver apenas um único objetivo na cabeça do melhor do mundo: «Jogar até aos 50 anos».
* Texto editado por Vítor Rainho