O concurso público para a construção da linha amarela do Metro de Lisboa já foi lançado em janeiro mas, apesar disso, a esperança para aqueles que se opõem continua viva: esta quinta-feira, o grupo de cidadãos por trás do movimento Contra o Fim da Linha Amarela vai à Assembleia da República entregar aos vários grupos parlamentares um abaixo- -assinado com cerca de duas mil assinaturas. “O abaixo-assinado é complementar a uma petição que esteve online e que já foi entregue no Parlamento. Temos garantia de que quase todos os grupos parlamentares destacaram deputados e líderes parlamentares (PSD e CDS/PP) para nos receber, a partir das 13h”, avança ao i Paulo Bernardo e Sousa, um dos dinamizadores da iniciativa e utilizador da estação de Odivelas, descontente com o projeto da linha circular.
Depois da petição, que reuniu “os mínimos necessários de assinaturas” para tentar o mais rápido possível travar o processo, o grupo de cidadãos, esclarece Paulo Sousa, “já sabia que havia um momento em que os partidos tinham de entrar nesta questão, e é este o momento”. Até porque, continua, “parece que há um grande consenso à volta disto, tanto na comunidade, claro, como entre os técnicos e nos partidos”: “Mesmo dentro do PS há quem não esteja alinhado com a ideia: na recolha de assinaturas tivemos o apoio logístico das juntas de freguesia do concelho de Odivelas, que são todas do PS, o que demonstra que nem toda a gente no partido estará alinhada na solução. Há uma certa teimosia de um grupo de pessoas, não queremos perceber porquê, só queremos que não avance porque vai estragar desnecessariamente a vida a muita gente”, acredita.
Paulo Bernardo e Sousa elucida que são vários os problemas que a linha circular levanta e que preocupam o movimento. Em primeiro lugar, o novo projeto “cria um constrangimento à linha amarela”. Explica o impulsionador que Odivelas – e Telheiras, na linha verde – passam a estar fora da linha circular, que acaba no Campo Grande, “e que passará a ser o local onde será despejada toda a gente que queira ir para norte do Campo Grande”. E isso não é de somenos importância, continua: “Estamos a falar precisamente no troço de toda a rede do metro onde se movimenta mais gente e isso está documentado com números do próprio metro”. A esse fator juntam-se riscos que colocam em causa a segurança, “como o excesso de movimento de pessoas em simultâneo”, mas é sobretudo o transtorno que a obra significa para a população a norte do Campo Grande que Paulo Bernardo e Sousa enfatiza: “A nossa preocupação não é se a linha circular é bicuda ou de outra forma, mas sim o retirar àquela população a possibilidade que esta quinta-feira tem de chegar ao centro de Lisboa de uma forma direta e sem interrupções”. As interrupções, precisa o dinamizador, preveem-se no Campo Grande e poderão significar uma demora, em situação ideal, de mais 10 ou 15 minutos em cada viagem. “É uma alteração grande na vida das pessoas. Sabendo nós que a situação ideal é rara e que as interrupções são frequentes, serão gerados atrasos nos transportes”, acredita. O cenário piora em caso de avaria ou acidente: “É que as linhas circulares, quando param, para mesmo tudo, e neste caso pararia a cidade toda. É um risco desnecessário”.
Além da petição e do abaixo- -assinado, o movimento Contra o Fim da Linha Amarela está ainda a analisar a possibilidade de avançar com ações judiciais. Defende o grupo de cidadãos que a legalidade do projeto “deixa muito a desejar”, porque “não teve audição popular”. Além disso, “não seguiu a tramitação normal para ser juridicamente aceitável”, assinala Paulo Bernardo e Sousa.
Uma proposta diferente
Críticas à parte, a iniciativa popular Contra o Fim da Linha Amarela acredita que é possível agradar a todos. Propõe, por isso, que Odivelas continue a ter ligação direta ao centro da cidade, uma intenção que se materializa num projeto já pensado pelo grupo: a nova linha ligaria Odivelas a Telheiras, em vez de ir só até ao Campo Grande, como determina o projeto em cima da mesa, que deixa fora da linha circular ambas as estações. Os viadutos pensados para o Campo Grande seriam, assim, dispensados. Já a Estrela e Santos ganhariam estações, como consta no projeto em curso, mantendo-se também a ligação das atuais linhas verde e amarela na estação do Cais do Sodré.