O estado da saúde da ‘geringonça’

O caos que tem infelizmente imperado em alguns serviços do Hospital de Leiria é um dos piores exemplos do estado a que chegou a Saúde.

«A tutela não foi parca em elogios ao trabalho que a nossa instituição desenvolveu. Mas foi parca em meios».
Hélder Roque

Há semanas atrás, um dos meus melhores amigos teve um problema de saúde grave.
Tendo estado a trabalhar a quase três centenas de quilómetros de casa, teve de ser levado de urgência para um hospital público, por sinal considerado dos melhores e mais reputados do país.
Chegou à urgência dois minutos depois do meio-dia. Antes de lá chegar, tinha a tensão arterial em 18/6. Isso mesmo: dezoito/seis! Colocaram-lhe um pulseira amarela.
Ficou no meio do caos: doentes em pé, outros sentados no chão, outros encostados à parede, outros em cadeiras de rodas, outros em marquesas, sem espaço sequer para médicos, enfermeiros auxiliares e bombeiros se movimentarem convenientemente. 

Para além dos gritos, vómitos, etc., tendo chegado às 12h02, só foi atendido (e após sucessivos pedidos de ajuda!) às 16 horas! Quatro horas depois! 
Tendo chegado em estado crítico, foi perguntando — tanto quanto as poucas forças lho permitiam — quando é que seria atendido. Das poucas vezes que se sentou, quase sempre lhe pediram que se levantasse para dar lugar a outros doentes. O melhor lugar que arranjou foi uma cadeira de uma secretária, à porta de uma concorridíssima casa de banho. Sem palavras!
Várias vezes teve de ser agarrado para não cair no chão.
Um dos médicos, após ele lhe perguntar quando seria atendido, respondeu: «Mas o que é que você quer? Não vê como isto está?». E o meu amigo respondeu-lhe: «Só não quero morrer aqui assim!» O médico retorquiu-lhe: «Diga lá: à frente de quem é que quer passar?».
Acabou por ser atendido às 16h00. E às 21h30 deram-lhe alta! Um familiar teve de o trazer de carro para fazer cerca de trezentos quilómetros até casa.
Viu e sentiu o que nunca pensou ver e sentir. Não foi o único a ter este acompanhamento. Percebeu como está um dos principais hospitais públicos do nosso país. No norte de Portugal. Sem pessoal, sem meios, tudo em stresse, revoltado, sem mãos a medir.
Este amigo, registe-se, é votante habitual do Partido Socialista. Um moderado de esquerda que nunca foi um entusiasta da ‘geringonça’. Mas que sentiu na pele qual é o estado da saúde da ‘geringonça’.
Exemplos como este não faltam de norte a sul do país. 

O estado da Saúde socialista é este: falta de pessoal especializado, falta de meios. Tudo em nome das muitas cativações que têm marcado os quase quatro anos do Governo socialista. E também devido a decisões como o encerramento de serviços de atendimento permanente ou a retirada de médicos da rede de lares de terceira idade, obrigando a que as urgências dos hospitais recebam cada vez mais doentes. Já para não referir os critérios para pagamento de dívidas dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde: quem faz boa gestão não tem apoio, quem gere pior e acumula mais dívidas tem o beneplácito do ministro das Finanças.
A situação é muito grave e preocupante. E está a criar muitos problemas, até entre médicos, enfermeiros e outros profissionais da Saúde.
Infelizmente, os portugueses não têm razões para acreditar que esta situação gravíssima possa ser revertida de forma rápida.
Este é um exemplo de como o discurso político choca de frente com a realidade.

olharaocentro@sol.pt

 

CONVENIENTE

Hotéis e turismo
Apesar de alguns sinais de arrefecimento da economia portuguesa, os pedidos para autorização, construção e abertura de novos hotéis em Portugal continuam a aumentar. Estima-se que quase 140 novos hotéis e quase 12 mil novos quartos irão abrir e estar disponíveis até final do próximo ano.

INCONVENIENTE

Mudança da hora
Há mais de 100 anos foi criada a chamada ‘hora de verão’. Duas vezes por ano, a hora muda. Na Europa, tal é cada vez menos pacífico. Para além da hora ter ou não de mudar, discute-se em que meses deve mudar. Setembro? Abril? Outubro? Março? Ou nunca mudar?