Vários grupos de vigilantes começaram nas últimas semanas a atacar a comunidade cigana devido a rumores de que um cigano, que se fazia transportar numa carrinha branca, teria raptado crianças para as vender a redes de prostituição e para tráfico de órgãos. Na noite de segunda-feira uma multidão de 70 pessoas atacou comunidades ciganas em Clichy-sous-Bois e Bobigny, subúrbios de Paris, com armas artesanais. Cerca de 20 foram detidas pelas autoridades.
Os ataques começaram depois de voltar a circular nas redes sociais o rumor do rapto das crianças. O primeiro, registado a 17 de março, aconteceu quando várias pessoas avançaram contra os dois condutores e os espancaram na cidade francesa de Colombes.
“Depois deste rumor ser partilhado nas redes sociais, duas pessoas já foram injustamente acusadas e agredidas. Não acreditem nesta informação”, alertou a polícia francesa nas redes sociais. “Não incitem à violência”, acrescentou. Um chefe de polícia disse à BBC que tem avisado os seus agentes de que uma “psicose está a começar a instalar-se” na capital francesa.
O rumor – ou fake news – circula nas redes sociais há vários anos e foi há muito desacreditado, mas chegou à Bélgica, Alemanha e, agora, França. Em 2009, o canal australiano ABC News classificou-o como “mito urbano” e, em 2012, um detetive sueco viu-se obrigado a dizer aos jornalistas que o rumor também era falso.
As comunidades ciganas têm sido um alvo constante das narrativas de extrema-direita que têm ganho força no continente europeu. Na Hungria, por exemplo, vários acampamentos foram incendiados por elementos de extrema-direita, que divulgaram as suas ações nas redes sociais e YouTube.
As agressões em França são muito semelhantes às que aconteceram na Índia há uns meses: boatos difundidos no Whatsapp sobre pedófilos levaram a vários linchamentos.