Wolverhampton tornou-se, de um ano para o outro, uma cidade meio portuguesa. Quem diria? Nascida em 985 com o nome de Wulfruneheantun, expressão saxónica que significa A Quinta de Wulfrun, um tipo abastado que se instalou na região do Condado de Staffordshire, nas West Middlands, começou por ser um mercado de pequena expressão que ganhou importância no tempo da Revolução Industrial, tornando-se um centro do negócio de lanifícios bem como zona privilegiada de minas de carvão e fábricas de aço.
Com Nuno Espírito Santo no comando dos Wolverhampton Wanderers (wandereres, ou errantes, em português, é nome comum nas equipas inglesas), os Lobos começaram a falar uma língua diferente: Rui Patrício, Ruben Vinagre, Ruben Neves, Diogo Jota, João Moutinho, Pedro Gonçalves (Pote), Ivan Cavaleiro e Helder Costa obrigam os adeptos a um esforço de pronúncia.
Em sétimo lugar no campeonato, o primeiro após os inevitáveis Big Six, apurados para as meias-finais da Taça de Inglaterra, há motivo para sorrisos na alcateia. E, apesar das berrantes camisolas, sorrisos que não têm nada de amarelos.
São antigas como a noite dos tempos as origens do clube mais português daquela que foi, para nós, um dia, a Pérfida Albion. Em 1877 já existia com o nome de St. Luke’s FC, designação adotada por causa da escola religiosa da igreja homónima. Depois o grupo de rapazes que se dedicava ao jogo da bola misturou-se com os amigos do Blakenhall Wanderers e o Wolverhampton Wanderers passou à realidade sendo, até, um dos doze pais fundadores da Football League em 1888, como diriam os norte-americanos.
Da escuridão nasce a luz
Wolverhampton cidade orgulha-se de ter um lema: ‘Out of Darkness Come Light’. Da escuridão nasce a luz. E, assim sendo, adotou o negro e o amarelo como símbolo dessa ideia positiva. Se as camisolas do St. Luke’s eram vermelhas e brancas, as do renascido Wanderers respeitaram a esperança dourada de um futuro glorioso. Já o lobo é mais novo. Ou melhor, os lobos. Durante décadas a fio os clubes ingleses só usavam emblemas nas camisolas em jogo de especial importância. O Wolverhampton recorria ao escudo do Wolverhampton City Council, um daqueles brasões profundamente complicados que mete capacetes de cavaleiros de armaduras flamejantes e um poucos de lírios ou flores de lótus. Nisso ninguém os bate deste o tempo medieval das justas.
Avancemos portanto até aos anos de 1960. Essencialmente práticos, alguns adeptos do clube resolveram arranjar-lhe um diminutivo. Tudo certo. Realmente Wolverhampton Wanderers Football Club é exagero vocabular. Por isso, ficou Wolves. Isto é, Lobos. Vinham de uma década maravilhosa – três títulos de campeão (1953-54, 1957-58, 1958-59); dois segundos lugares (1954-55, 1959-60); uma conquista da Taça de Inglaterra (1959-60) – e essa evolução da imagem lançou o clube para a modernidade. Nas bancadas do Molineux, o público cantava afinado – The Happy Wanderer.
E a lupicínia figura colou-se de vez ao peito dos jogadores do Wolverhampton. Primeiro um lobo em salto, estilizado; em seguida três, sobrepostos; finalmente, como hoje em dia, apenas o contorno de uma cabeça.
Portugueses e chineses
Nem só de portugueses se faz o presente do Wolves.
Depois de terem entrado em bancarrota no turbulento ano de 1980, os Wanderers encontraram, em 2016, nos chineses da Fosun, um conglomerado de empresas de investimento sediado em Xangai, os parceiros para uma fase de crescimento sustentado que traz consigo ambições bem definidas.
Campeões do Championship (II Divisão) na última época, entrarão em Wembley no próximo dia 7 de abril para decidir, face ao Watford, uma presença na final da Taça de Inglaterra. A armada portuguesa está, assim, a um passo de conseguir algo de extraordinário e que não acontece há 59 anos. Razões mais do que suficientes para que neste momento já façam parte de uma inequívoca história de sucesso.