Segundo jogo após o regresso ao banco do Real Madrid, segunda vitória para Zinedine Zidane. Os merengues suaram, mas conseguiram mesmo vencer o Huesca, último classificado do campeonato: 3-2 no Santiago Bernabéu, com golo de Benzema a um minuto dos 90.
A partida ficou, porém, marcada por uma decisão inesperada do técnico francês: a opção pelo filho Luca para a baliza. Esta nem é uma situação nova – o guarda-redes de 20 anos já tinha feito a estreia oficial pela equipa principal do Real Madrid na última jornada da época passada, num 2-2 no terreno do Villarreal. Aliás, a 30 de novembro de 2016, Zidane já tinha promovido igualmente a estreia do seu filho mais velho, Enzo, num jogo da Taça do Rei frente ao Cultural Leonesa – com o jovem médio, hoje a jogar no Rayo Majadahonda, da II Liga, a marcar até o quarto golo no triunfo merengue por 6-1.
Pode até recuar-se um pouco mais no tempo e perceber-se que Zidane até já tinha treinado os dois filhos na equipa B do Real Madrid, que orientou durante ano e meio (do início da temporada 2014/15 até janeiro de 2016).
Má relação com Lopetegui A novidade, como já se disse, nem foi total. Mesmo assim, alimentou polémicas em Espanha, com acusações de favoritismo e nepotismo. “Não gosto dessa coisa de pai treinador e filho jogador. Isso pode prejudicar o menino”, realçou, por exemplo, Bernd Schuster, campeão como jogador e treinador pelo clube madrileno.
No fim da partida, Zidane (pai) justificou a sua decisão com o facto de pretender dar descanso a Navas – Courtois, o outro guarda-redes do plantel, está a recuperar de lesão -, garantindo ter escolhido o filho por mérito deste. “Estou feliz por ele, pela sua estreia no Bernabéu. Não jogou por ser meu filho: é o terceiro guarda-redes, mas o Thibaut [Courtois] estava mal e quis dar descanso ao Keylor, que veio da seleção. Lancei um jogador do Real Madrid. O Luca esteve bem. Está há 16 anos na formação do Real Madrid e tem caráter e personalidade”, realçou o técnico.
Luca Zidane chegou aos merengues em 2004, ainda com o pai a jogar na primeira equipa. Tinha seis anos. Daí para cá, cumpriu toda a formação no Real, passando a integrar a equipa principal na última época, como terceiro guarda-redes. Este ano, com a chegada de Julen Lopetegui ao comando técnico e de Courtois para o plantel, caiu para quarta opção – chegou a pedir para trabalhar unicamente com a equipa B, então ainda orientada por Santiago Solari (que depois substituiria Lopetegui na formação principal), por se sentir a mais para o antigo treinador do FC Porto.
Com a saída de Kiko Casilla em janeiro, para o Leeds United, recuperou o estatuto de terceira opção, conseguindo várias presenças no banco devido a lesão de Navas. Pelo meio, foi somando jogos pela equipa secundária, na qual vem protagonizando uma excelente época.
Próxima época em aberto Até que chegou a tão ansiada estreia no Bernabéu, diante dos adeptos merengues. Não começou da melhor forma – sofreu um golo logo aos três minutos, no primeiro remate do Huesca à sua baliza, mas pouco podia fazer para o travar. No segundo, aos 74’, já dá a ideia de que podia ter pelo menos tentado defender o cabeceamento de Etxeita. Ainda assim, mostrou segurança nas bolas pelo ar e também qualidade a jogar com os pés – herança óbvia do pai, um dos melhores futebolistas de sempre.
Para já, não é garantido que volte a ser titular amanhã, no Estádio Mestalla, frente a um Valência que está a crescer: o mais provável será mesmo Navas regressar ao onze. É, todavia, razoável pensar em ver Luca mais vezes na baliza do Real no futuro próximo, pelo menos enquanto Courtois estiver indisponível.
Em relação à próxima temporada, não é líquido que o guarda-redes francês (tem também a nacionalidade espanhola, mas é internacional em todos os escalões jovens pelos gauleses) fique no clube, especialmente se Navas e Courtois se mantiverem também. O que vier a fazer no que resta desta época poderá servir como tira-teimas – e resposta aos críticos, seus e do pai.
Note-se que Zidane tem ainda mais dois filhos a jogar nas categorias de base do Real Madrid: Theo, de 16 anos, e Elyaz, de 13. O mais velho alinha atualmente nos juvenis; o mais novo está nos infantis. Ambos são médios, como o pai, e não será de estranhar que, daqui a uns aninhos, mais dois Zidanes apareçam na equipa principal do Real. E, quem sabe, lançados também pelo pai.