Cristina Cattaneo é médica forense e fazia parte da equipa do Laboratório de Antropologia e Odontologia Forense de Milão, que ficou encarregue de analisar os restos mortais de muitos cadáveres encontrados no Mediterrâneo, provenientes de um naufrágio que matou mais de mil pessoas ao largo da costa da Líbia.
Um dos náufragos desse desastre era um menino do Mali, que não teria mais do que catorze anos e que coseu as boas notas que tinha na escola no bolso do seu casaco, provavelmente na esperança de provar o seu valor num estabelecimento de ensino europeu.
A história dele e de outras 500 pessoas a quem a sorte não sorriu está imortalizada no livro 'Naufraghi senza volto' (náufragos sem rosto, em português), escrito por Cristina Cattaneo e publicado no ano passado.
“Com que expectativas teria guardado este menino, com tanto cuidado, um documento que atestava que se esforçava nos estudos, que pensava que lhe abriria algum tipo de porta numa escola italiana ou europeia, e que agora se reduzia a um papel empapado?”, questinou a autora, citada pelo El Pais.
Durante cinco anos, esta médica e a sua equipa dedicaram-se a descobrir a história das muitas pessoas que perderam a vida a tentar chegar à Europa. Este menino do Mali viajava num barco onde normalmente caberiam cerca de 20 pescadores. Naquela noite, mais de mil pessoas pagaram avultadas quantias para conseguirem um lugar na embarcação que, acreditaram, lhes traria um futuro melhor.
Deste rapaz sabe-se pouco. O barco onde seguia partiu da Líbia a 17 de abril de 2015, tendo-se afundado pouco tempo depois.