As mortes por violência doméstica dispararam este ano em relação a 2018 e se o início do ano já tinha sido marcado por este assunto, este fim de semana o tema voltou a estar sob os holofotes: no sábado, morreu mais uma mulher no mesmo contexto. A vítima de 44 anos foi encontrada morta na banheira de sua casa, em Torres Vedras, com sinais de estrangulamento violento, suspeitando-se que o crime tenha sido cometido pelo ex-namorado da vítima.
Segundo noticiou o Correio da Manhã, Heila Lopes – uma mulher de nacionalidade brasileira que residia em Portugal há mais de duas décadas – recebia ameaças do ex-namorado há pelo menos meio ano. No sábado, o suspeito terá concretizado as ameaças e estrangulado a vítima até à morte.
Uma amiga da vítima, em declarações ao mesmo canal, revelou que no dia do crime tentou contactar Heila, mas que ela não atendeu o telemóvel. Preocupada, decidiu entrar em contacto com a filha da vítima, uma adolescente de 14 anos e que estava fora de casa a trabalhar como babysitter. Quando a filha de Heila chegou a casa deparou-se com o pior cenário. “A menina abriu a porta, entrou e quando viu aquilo ficou em desespero”, revelou, acrescentando que assim que chegou à casa da amiga contactou as autoridades.
Quanto à relação entre Heila e o suspeito, a amiga da vítima revelou que estes “tiveram um caso”, mas que a vítima decidiu acabar o relacionamento porque o suspeito já tinha um histórico violento. No entanto, a decisão de Heila não foi bem aceite pelo ex-namorado, que a começou a ameaçar, chegando a fazer inclusivamente ameaças de morte. “Ela era branquinha, loirinha e estava toda roxa, aleijada (…). Ele foi com ela até à morte”, disse, revelando ainda que o suspeito perseguia a vítima e a obrigava a fazer coisas contra a sua vontade.
Depois do crime, o suspeito conseguiu fugir, mas acabou por ser detido mais tarde pela GNR para ser presente a um juiz.
Medidas de prevenção Os números continuam a subir e o ano já é negro. Se em 2018 se registou um total de 28 mortes por violência doméstica, 2019 está a caminhar para que esse número seja ultrapassado. Desde janeiro que já morreram 16 pessoas – das quais 14 era mulheres, juntando-se-lhes um homem e um bebé que tinha apenas dois anos.
O caso tem preocupado o Governo, que perante este cenário já arregaçou mangas. O tema foi discutido, mo mês passado, no Parlamento, tendo sido aprovado um pacote de medidas de prevenção e combate à violência doméstica.
Entre as medidas aprovadas pelo Executivo está a criação de um grupo de trabalho para a analisar a possibilidade de vir a ser integrado um juiz da área da família no coletivo de magistrados que venham a julgar casos de violência doméstica, responsabilidade parental e maus tratos, o alargamento dos gabinetes de apoio às vítimas “nos departamentos de investigação e ação penal” e a reestruturação do Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica, para garantir o atendimento das vítimas 24h por dia.
O primeiro-ministro, em março, já tinha admitido que a violência doméstica é um “desafio coletivo de toda a sociedade” e que é preciso fazer algo para a combater. António Costa disse ainda que nos dias de hoje já não se pode “aceitar o velho ditado que diz que entre marido e mulher não se mete a colher”. “A violência diz-nos respeito a todos, e todos temos o dever de intervir, de não calar, de denunciar, de levar a sério as denúncias, de investigar e de prosseguir essa investigação até à fase da condenação”, alertou.