«A vida está cheia de oportunidades para ficar de boca fechada»
Cardeal Richelieu
A catástrofe que nas últimas semanas se abateu sobre Moçambique tocou-nos a todos. Por razões diversas.
Pelo lado humano – porque somos sensíveis à dor, ao sofrimento, à destruição, ao abandono, ao desespero. E pelo lado afetivo – porque Moçambique também é Portugal. Tão longe em distância e tempo, tão perto em proximidade, identidade e pertença.
Aliás, neste sentido, não consigo evitar partilhar publicamente que Moçambique é o país de África e da CPLP onde mais vezes estive, quer a título oficial (enquanto governante e parlamentar) quer a título pessoal.
Um território, um país, um povo que tem sofrido muito após a sua independência. E que merece o melhor para as suas vidas e para as suas famílias. Recordo com bastante saudade os sorrisos, a simpatia e a vontade férrea de querer o melhor para o seu país, de tanto moçambicano com quem privei. Recordo também com muito respeito o quanto gostam de Portugal, dos portugueses. Como acompanham a nossa vida coletiva, o nosso desporto e em particular o nosso futebol.
Décadas após a sua independência e com excelentes relações diplomáticas, politicas, económicas, sociais e culturais com Portugal, Moçambique é para muitos de nós muito mais do que um país falante da língua de Camões. É um território que acolhe parte da diáspora portuguesa, desde Nampula até Maputo, passando não só pela Beira mas pelo interior e litoral de um país com enormes potencialidades, que não pode continuar a ser visto como um país pobre, ao qual não é fácil vislumbrar um futuro melhor.
A diáspora moçambicana presente em Portugal é, por outro lado, um excelente exemplo de uma comunidade dinâmica, que tem contribuído e muito para o desenvolvimento económico e social do nosso país, assumindo os seus membros a condição de embaixadores anónimos na preservação da cultura moçambicana em Portugal. E sendo igualmente catalisadores das boas relações entre os dois povos e os dois países.
É também por tudo isto que, ao vermos as imagens da devastação, da destruição, da catástrofe em Moçambique, sofremos e sentimos um nó na garganta e um aperto no coração. Mas, ao mesmo tempo, sentimos orgulho e satisfação ao vermos parte de Portugal a mobilizar-se por Moçambique. Com meios diversos. Através de instituições públicas e não públicas. Os nossos media fazendo também um trabalho positivo. Com os nossos bombeiros, a nossa Cruz Vermelha, os nossos militares, os nossos fuzileiros. Quem de nós não sente orgulho e tem um pingo de emoção ao ver algumas operações de salvamento que vão fazendo e o apoio e carinho que vão oferecendo?
Que estejamos à altura das nossas responsabilidades não só históricas mas também futuras. De viver o atual sofrimento do povo moçambicano como uma oportunidade de contribuirmos para um futuro diferente. Apostando em eixos de desenvolvimento fundamentais para as gerações mais novas. Ajudando e apoiando não só a recuperação e a reconstrução das infraestruturas destruídas mas também a educação e a saúde.
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