O Presidente dos Estados Unidos prometeu esta quarta-feira retaliar contra o tratamento «duro» dado pela União Europeia ao Reino Unido. Ainda esta semana Donald Trump ameaçou aumentar as tarifas aduaneiras das exportações da europeias para o mercado norte-americano, afetando bens no valor de quase 10 mil milhões de euros.
A promessa de retaliação de Trump surgiu no Twitter, no seguimento dos líderes europeus terem oferecido à primeira-ministra britânica, Theresa May, uma extensão mais longa do que a pretendida. Algo que forçará o Reino Unido a ir a eleições europeias, contrariamente ao desejado por May (ver texto ao lado). O líder norte-americano aproveitou para deixar críticas ao comportamento comercial «brutal» da UE com os Estados Unidos, deixando a nota de que isso «irá mudar».
A ameaça de aumento das tarifas sobre produtos já tinha sido feita antes desta cimeira europeia, motivada pela oposição dos EUA aos subsídios dados pela UE à Airbus – rival da Boeing, uma multinacional norte-americana. O caso tem estado em litígio na Organização do Comércio Mundial nos últimos 14 anos, mas Trump decidiu agir agora. As novas tarifas poderão afetar boa parte dos produtos europeus, incluindo marisco fresco, lacticínios, fruta, azeite, óleos essenciais, têxteis e outros produtos.
Este é apenas mais um degrau na escalada das negociações comerciais entre a Europa e os EUA, que têm estagnado nos últimos anos, entre tensões e ameaças de aumento de tarifas. Entre os principais pontos de discussão estão as regras de segurança alimentar estritas da União Europeia, que os EUA rejeitam. Os produtores norte-americanos podem colocar no mercado produtos com uma determinada quantidade de corpos estranhos – como larvas, pelos de rato e bolor -, o que não é permitido no espaço europeu. Por exemplo, nos EUA os produtores podem vender frascos de 100 gramas manteiga de amendoim com até 30 fragmentos de insetos, os frascos de 25 gramas de paprica podem ter até 11 pelos de rato e é aceitável 3 miligramas de excremento de rato por quilograma de gengibre.
O governo norte-americano já publicou os seus «objetivos negociais» para um futuro acordo comercial com o Reino Unido após o Brexit. O executivo de Trump apelou a May para que opte por uma «saída limpa» da UE – um eufemismo para uma saída não negociada – de modo a livrar-se das suas «injustificadas restrições ao comércio» – como a proibição da venda de galinha lavada com cloro e carne de vacas injetadas com hormonas. O objetivo é «eliminar práticas que injustamente diminuem oportunidades de acesso ao mercado norte-americano», possibilitando um acordo de livre comércio anglo-americano.
O ministro do Comércio britânico, Liam Fox, pareceu concordar com a posição norte-americana, dizendo à Reuters não ter «nenhuma objeção» a que os britânicos consumam galinha lavada com cloro, afirmando-se defensor de «dar ao público britânico a escolha do que comem». Entretanto, o governo britânico acabou por negar quaisquer planos de baixar os seus padrões de segurança alimentar – planos esses que ficarão completamente na gaveta caso o Brexit acabe por resultar numa união alfandegária com a UE, cenário para onde se dirigem as negociações entre May e o líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn.