Anastácia José tem 38 anos e é mãe de sete filhos. Tem medo da chuva que se começa a fazer sentir, exatamente um mês depois de o ciclone Idai ter deixado a sua família desalojada num subúrbio de Chimoio, em Manica, no centro de Moçambique.
“A chuva do ciclone veio também assim”, recorda Anastácia José, citada pela Lusa, apontando para o este, o sentido da entrada do ciclone no continente, que devastou a cidade da Beira.
Durante 21 dias viveu em salas de aulas e em tendas, num abrigo do bairro Trangapasso, Manica, até o governo ter desativado aquele lugar. Regressou a casa, entretanto reconstruída com novos blocos de argila, o mesmo material que se dissolveu durante a passagem do ciclone, fazendo com que desabasse.
O "meu receio é que a chuva estrague os blocos antes de eu levantar as paredes desabadas", contou à agência Lusa, a propósito do medo do mau tempo que se forma, o primeiro a atingir o local desde a passagem do ciclone Idai, a 14 de março.
Outro sobrevivente do ciclone, Marcelino Fopenze, que vive no mesmo local, olha para as chuvas com incerteza sobre o que poderá vir a acontecer com as paredes da sua casa, que está em fase de reconstrução.
"Enquanto estava no centro de acolhimento já batia blocos. A minha casa já está formada, e mais algumas fiadas chego à cobertura" diz Marcelino à Lusa. "Agora a coisa que menos preciso é chuva, porque enquanto eu não cobrir, será um trabalho em vão", declara.
Marcelino Fopenze, à semelhança de outros desalojados do ciclone naquela localidade, já regressaram aos seus bairros para reerguerem as suas casas, mas estão a utilizar argila, estacas e plásticos, o mesmo material precário que foi destruído pela passagem do ciclone.
Recorde-se que o ciclone Idai atingiu Moçambique, o Malawi e o Zimbabué em meados de março. Só em Moçambique, esta catástrofe provocou mais de 600 mortos e mais de 1600 feridos, tendo afetado um total de 1,5 milhões de pessoas, de acordo com o último balanço.