Num sinal de estar a preparar-se para futuros confrontos com o autoproclamado chefe de Estado venezuelano, Juan Guaidó, o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou a expansão das milícias que ajudam a sustentar o regime e a dissuadir uma qualquer intervenção externa no país. As milícias serão aumentadas para incluírem nas suas fileiras três milhões de membros. Do outro lado da barricada, Guaidó avançou com um périplo pelo país para reunir apoios para o próximo embate com o regime bolivariano.
“Com as vossas espingardas nos ombros, estejam preparados para defender a pátria e escavar o solo para plantar as sementes que produzem comida para a comunidade, para o povo”, disse Maduro no sábado, perante milhares de milicianos. Além do apelo à defesa armada do país, o chefe de Estado quer que as milícias se dediquem à produção agrícola para responder à escassez de alimentos no país, onde uma grave crise humanitária se tem feito sentir, em parte produto do embargo económico e financeiro dos Estados Unidos ao país.
As milícias foram criadas em 2008, ainda durante a governação do falecido líder Hugo Frías Chávez, e são hoje um dos sustentáculos do regime e da sua defesa contra ameaças externas. Dependem diretamente da presidência e complementam a atuação das forças armadas no terreno, implantando-se nos bairros. Com esta ordem, a milícia passará dos dois milhões de efetivos para os três milhões, com Maduro a garantir ter armas para os armar.
Com a sua legitimidade política e democrática a ser há meses contestada por Guaidó, Maduro continua firme no poder. Os militares, o seu principal sustentáculo, ainda não deram sinais de falta de apoio, bem pelo contrário. O ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, declarou lealdade absoluta a Maduro e acusou Guaidó de querer instalar um “governo paralelo no país”.
Todavia, Guaidó tem apelado repetidamente aos militares para desertarem e passarem para o seu lado, mas entre as altas chefias militares não tem tido sucesso. No entanto, tem havido algumas deserções, principalmente entre adidos militares sediados no estrangeiro e entre os quadros intermédios ou baixos da hierarquia militar. Houve algumas tentativas de sublevação de militares, mas foram rapidamente travadas por forças leais ao Presidente venezuelano.
A recente decisão de Maduro de expandir as milícias é encarada pelo governo norte-americano como sinal de as forças armadas já não estarem dispostas a reprimir as manifestações da oposição. E, por isso, as milícias serão um dos principais alvos da nova fase de ações contra o regime.
“Se Maduro tivesse mais apoio não pediria aos coletivos [outro nome dado às milícias] que reprimissem, mas sim à Guarda Nacional Bolivariana”, disse uma fonte da Casa Branca a vários órgãos de comunicação social, entre os quais o Estado de São Paulo, referindo que a recente decisão “prova que a sua margem de manobra está a diminuir”.
“[As milícias] são principalmente um contraponto ao setor militar, caso ocorra uma oposição armada ao chavismo dentro da revolução”, explicou Luis Vicente León, do Instituto Datanálisis, ao Estado de São Paulo.
Guaidó também se tem preparado para a próxima ronda de confronto com o regime, ainda que esteja a ser acusado de usurpação de cargos públicos pela justiça venezuelana. O autoproclamado Presidente tem viajado pelo interior do país numa tentativa de reunir apoios: “Estamos aqui para analisar a situação, o vosso sofrimento”, disse Guaidó perante vários apoiantes seus no estado de Zulia, onde se encontra a segunda maior cidade venezuelana, Maracaibo.