Regressaram os receios de atentados terroristas na Europa. Um canal de apoiantes do Estado Islâmico, a Fundação Al Muntasir, publicou esta segunda-feira um vídeo no Telegram, com pouco mais de um minuto, contendo imagens do atentado em Barcelona, em 2017, misturadas com imagens da Semana Santa em Valência e Málaga. Por entre imagens de procissões a abarrotar de gente surgiam vislumbres de atropelamentos e indivíduos a esconder armas brancas, rematando com a frase em espanhol: “Onde estão agora, mujahideen de Alá, quando são necessários?”
Coincidentemente ou não, após os apelos, ontem, por volta das 11h (hora de Lisboa), uma ameaça de bomba na Torre Spacio, em Madrid, lançou o caos na capital do país vizinho. Este arranha-céus de 57 andares e 235 metros de altura faz parte de um complexo de quatro torres onde estão estabelecidos escritórios de negócios, bem como as embaixadas do Reino Unido, Holanda, Canadá e Austrália. Toda a torre teve de ser evacuada e a resposta dos serviços de emergência foi imediata, com um cordão policial à volta do edifício. De seguida foi feito um varrimento de todas as instalações pelas autoridades, tendo a torre voltado a funcionar normalmente algumas horas depois.
Segundo o El País, o alerta terá sido recebido na embaixada da Austrália – país de origem do atirador de extrema-direita que massacrou 50 muçulmanos em duas mesquitas, em Christchurch, na Nova Zelândia. A Fundação Al Muntasir já antes tinha criticado os “cruzados” por “alimentarem o radicalismo” através de massacres como na Nova Zelândia. Esta fundação tem ganho destaque desde o encerramento dos canais oficiais do Estado Islâmico, bem como após a derrota de um projeto territorial de califado na Síria e no Iraque.
O modus operandi proposto pela propaganda está em linha com a leitura da maioria dos analistas, que consideram que o Daesh abandonou por completo a organização direta de atentados na Europa. Passaram a depender da ação dos chamados lobos solitários – indivíduos isolados, geralmente cidadãos dos países que atacam, com pouco ou nenhum contacto direto com a organização e que se radicalizaram na internet – pessoas que raramente partilham os seus projetos terroristas fora da esfera online e, como tal, são muito mais difíceis de detetar pelos serviços de segurança.
Entretanto, as forças de segurança espanholas já contam este ano pelo menos seis ameaças explícitas de terrorismo contra Espanha vindas de islamitas radicais. As autoridades mantêm o alerta, que chegou esta semana ao nível quatro – risco alto – num máximo de cinco. Não é a primeira vez que o Estado Islâmico coloca sob a sua mira Espanha, tendo prometido voltar a recuperar o Al Andaluz – nome da província constituída por Portugal e Espanha quando faziam parte do Império Árabe.