Este poder da imagem é tal que cruzamos o físico com o online nos inúmeros locais que desenvolvem espaços bonitos e instagramáveis para que cada consumidor faça o seu post e eleve o local a um status de moda, de trendy e de apetecível.
É o caso de inúmeros restaurantes e hotéis que têm já salas de espera pensadas especialmente para este fim, quebrando a monotonia e desagrado da espera com um ambiente agradável, giro e convidativo à partilha.
A imagem é imediata, inspira e rapidamente nos leva para uma marca, uma mensagem, uma ideia.
Mas a imagem é poderosa muito antes do Instagram e deste fator ‘Instagramável’.
Desde a pintura (indo mesmo à rupestre), fotografia, cinema, televisão todos têm na imagem componente essencial das suas histórias e elemento que gera emoção e reflexão. Se hoje usamos a imagem para projetar o que somos ou queremos ser numa rede social, com qb de voyerismo e exibicionismo, lembremo-nos que a imagem é poderosa por si só há muito, muito tempo.
E por isso hoje há uma imagem que não me sai da cabeça e que foi eleita a fotografia do ano pela World Press Photo. A imagem de uma criança hondurenha de dois anos, Yolanda Sanchez, a chorar enquanto a sua mãe é revistada, à noite, na fronteira entre México e Estados Unidos. (imagem de 12 de junho de 2018 do fotógrafo John Moore). Uma imagem que na altura percorreu o mundo, gerando muito debate, conversa e chegando mesmo à capa da Time.
Uma imagem que não me sai da cabeça pelo drama que denunciou e que assistimos na fronteira entre estes dois países e acima de tudo pela história que nos conta. Correndo o risco de soar naif, como é possível ter crianças a passar por isto pelo mundo fora? Como assistir ao drama daquela mãe numa só imagem? Enquanto mãe, e tendo o meu filho mais novo aquela idade, mais do que ser difícil imaginar aquela situação, há uma identificação e empatia que me emocionam e ao mesmo tempo me revoltam.
Não é claramente um momento ‘instagramável’ ou ‘digno’ de um feed bonitinho, clean e de vida perfeita.
Mas é a fotografia que devemos seguramente partilhar. É aquela que se deve tornar viral – a par de muitas outras que contam histórias, dramas e tragédias que não devem ficar esquecidas num qualquer jornal.
Esta é a fotografia poderosa que encerra em si o verdadeiro poder da imagem. O poder de conseguir fazer pensar, transformar e melhorar.
Usemos então o Instagram e as outras redes sociais ou as plataformas onde nos movimentamos para esta partilha e para mostrar o mundo real.
A vida não é um feed perfeito de Instagram, mas também é certo que este feed não deve ser o centro de lamúrias do mundo. Não nos esqueçamos que se trata de uma rede social, que liga pessoas, estimula conversas, dá informação e amplifica mensagens. E está tudo certo com isso.
Mas que a imagem seja mais do que algo ‘instagramável’ nos dias que correm.
Que esta imagem vos toque e vos faça pensar. Esta e outras. Se o mundo é imagem, estejamos atentas às que realmente queremos partilhar com o mundo.
*Diretora Criativa Havas Sports & Entertainment