Estava Li há pouco no livro Páginas Desconhecidas de J. P. Oliveira Martins a seguinte frase, relativa à tentativa do Marechal Saldanha, em 1870, de levar Portugal a integrar-se na Espanha:
Nós propomos a formação de uma nação independente, livre, rica, próspera, exemplo para o Mundo. Saldanha salva o país matando-o, cura as nossas finanças incorporando-as no orçamento de Espanha, onde vê para si uma larga verba: não é um ministro de Portugal, é o governador de uma província espanhola.
Logo, tomei conhecimento de um ‘post’ no FB do ex-chefe da secreta portuguesa, Silva Carvalho, onde este, preocupado, dá nota da eventual compra de 51% dos CTT portugueses pelos Correios de Espanha. Referia ainda que «a banca em Portugal já é quase completamente espanhola» e que «a força da banca espanhola e o privilégio natural que atribui a empresas com sede em Espanha já conduziram a um êxodo de empresas de Portugal para Espanha». Já sem falar «do setor agrícola e da continuidade territorial das unidades agrícolas espanholas»…
Imediatamente me vieram à lembrança as longas observações de Franco Nogueira quanto ao eterno apetite espanhol pela absorção de Portugal e, também, quanto às características ‘entreguistas’ que as classes dirigentes portuguesas têm manifestado ao longo da nossa história.
Tudo isto não passaria de alguns arranhões de pele se outros indícios perturbadores não se somassem:
– a retirada, há já uns anos, da função constitucional das FFAA portuguesas de assegurar a ordem interna em caso de colapso institucional, e a entrega dessa função a uma qualquer entidade europeia, o que para mim, poderia significar às FFAA espanholas;
– o papel corrosivo sobre as instituições nacionais mais relevantes de alguns órgãos de informação social sob a influência de capitais espanhóis, preparando o caminho para o tal ‘colapso’;
– o contínuo e intencional desgaste, menorização e invalidação prática das FFAA portuguesas pelos sucessivos governos ‘civilistas’ e ‘europeístas’, de que o General Carlos Branco, em recente artigo no Expresso, conta mais um triste episódio;
Só não vê quem não quer que, sob a cobertura de uma ‘integração europeia’, está em curso mais um episódio de ‘entrega’ de Portugal a Espanha, como em muitas ocasiões no passado!
Não foi para isto, para a dissolução de Portugal às mãos dos novos ‘migueis de vasconcelos’, que se fez o 25 de Abril, cuja data recordaremos dentro de dias!
Também não o foi para que, da forma mais injusta e desumana, se atrase por mais de um ano a concessão das pensões de reforma aos cidadãos que a elas têm direito e delas dependem para viver!
O 25 de Abril também não se fez para andarem alguns bocados das nossas forças armadas pela R. Centro-Africana e outros lugares do mundo ao serviço de interesses estrangeiros e de políticas imperialistas…
O 25 de Abril também não se fez para que os deputados representem os partidos e os seus chefes, como na antiga União Nacional, e não os cidadãos. O espetáculo já em curso sobre as nomeações para as listas de deputados mostra bem o estado decrépito da atual democracia representativa.
Neste tempo de reflexão sobre Abril, deveríamos falar abertamente sobre estes assuntos que, se hoje estão ‘debaixo do tapete’, amanhã podem trazer-nos surpresas e desgostos maiores.
A Conferência realizada a 25 de março sobre ‘O direito da Catalunha decidir sobre o seu futuro’, com a participação do presidente do governo da Catalunha, Quim Torra, mostrou que é possível tratar de outro modo os assuntos ibéricos.