Foi com promessas de cooperação e de aproximação diplomática que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, se encontraram na quarta-feira cara-a-cara em Vladivostoque, na Rússia. “Tivemos uma conversa bastante substantiva, um a um”, disse Putin, explicando que “foram capazes de discutir tanto a história” das suas relações como “o presente e as perspetivas de desenvolverem laços bilaterais” – o encontro durou o dobro do tempo estimado. E, garantiu o líder russo, a “situação na península coreana também foi discutida”, com Kim a discutir “abertamente” sobre todos os assuntos da agenda. Por sua vez, Kim Jong-un limitou-se a dizer que o encontro “foi muito importante”.
No centro da conversa entre os dois líderes esteve o impasse das negociações entre Pyongyang e Washington sobre a desnuclearização da Coreia do Norte. Para Putin, qualquer desbloqueio implicará mais do que garantias de segurança por parte dos Estados Unidos – Pyongyang receia que sem armas nucleares o regime possa ser alvo de uma “mudança de regime” externa, à semelhança do que aconteceu no Iraque, em 2003, e na Líbia, em 2011. As garantias terão de ser internacionais, com a Rússia, China Japão e Coreia do Sul a terem uma palavra a dizer. Ou seja, a Rússia quer que se abandone o bilateralismo para se voltar a adotar o multilateralismo nesta questão, com as Six Party Talks – negociações multilaterais criadas em 2003. “Não há outro mecanismo internacional eficiente neste momento”, disse Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, ainda antes do encontro.
Com esta visita, Putin quer colocar novamente a Rússia no centro da política internacional, mostrando mais uma vez ser um ator indispensável para se ultrapassarem crises políticas.
“Eles [os norte-coreanos] apenas precisam de garantias sobre a sua segurança. Apenas. Precisamos de pensar em conjunto sobre isto”, explicou Putin aos jornalistas, referindo estar “profundamente convencido” de que a garantia de apenas um partido não ser suficiente sem apoio internacional. “É improvável que qualquer acordo entre dois países seja suficiente”, concluiu.
Como posição sobre o impasse, Putin deu sinais de aderir à tese da Coreia do Norte: quer a desnuclearização total da península e não apenas a de Pyongyang. Todavia, Moscovo apoiou a manutenção das sanções, alinhando com o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A Coreia do Norte diz que se comprometeu a desnuclearizar totalmente, mas apenas depois de os Estados Unidos levantarem as sanções que têm fragilizado a economia norte-coreana. Já Washington garante que Pyongyang se comprometeu a avançar com a desnuclearização sem condições prévias, sendo que as sanções serão levantadas apenas depois de o regime norte-coreano mostrar vontade em seguir a via da desnuclearização. Além disso, as duas partes divergem na extensão da desnuclearização: se apenas da Coreia do Norte ou de toda a península coreana.
Para Kim Jong-un, este encontro é uma forma de estreitar laços, de romper com o histórico isolamento e de desenvolver uma aliança alternativa à que tem com a China, o seu principal e único aliado. Pequim tem-se mostrado descontente com a posição negocial de Pyongyang, mas não abdica do seu aliado. Pequim receia que caso o regime caia a Coreia do Sul, aliado de Washington, integre o seu território, à semelhança do que a Alemanha Federal fez com a Democrática após a queda do Muro de Berlim. Se tal acontecesse, a China passaria a fazer fronteira com um aliado dos Estados Unidos, o que vê como ameaça.