O regime engalana-se hoje para festejar mais um aniversário do golpe militar de 25 de Abril, mantendo vivos festejos que cada vez nos dão menos motivos de orgulho.
Os guardiões da revolução insistem em apregoar as virtudes do movimento iniciado há 45 anos, condenando ao ostracismo quem dele discorda e catalogando estes como perigosos extremistas de direita, fascistas, nazis e outros mimos a que nos vamos habituando.
Por mim podem chamar-me o que quiserem, é para o lado que durmo melhor, porque recuso-me a prescindir do direito à minha liberdade de criticar os excessos revolucionários que, passados quase meio século, mantém Portugal na cauda dos países civilizados europeus, tendo, inclusive, sido já ultrapassado pela maioria dos estados que nasceram com a implosão da União Soviética.
Não me revejo na abrilada e, ao contrário do pensamento imposto pelos controladores do regime, considero que não é a ela que devemos a democracia e a liberdade, mas sim ao 25 de Novembro, data hoje ostensivamente ignorada pelos órgãos de soberania nacional, pelos partidos políticos e pela esmagadora maioria da imprensa a soldo da esquerda totalitária.
Na verdade, com o golpe de Abril instalou-se em Portugal uma ditadura de sinal contrário, com a totalidade dos poderes decisórios do Estado a serem tomados de assalto pelos comunistas, que rapidamente transformaram o País num satélite soviético.
Somente depois da revolta popular que se estendeu por todo o verão quente de 75 e com a corajosa resistência levada a cabo pelos sectores moderados das Forças Armadas, processo que culminou com o frustado golpe planeado pelos radicais do MFA em 25 de Novembro de 1975, é que foi possível dar-se andamento à democratização da sociedade e à salvaguarda da liberdade individual.
Não admira, pois, que os derrotados do 25 de Novembro, hoje os melhores amigos de Costa, que suportam o seu governo, tudo façam para abafar um dia que deveria ser de solene comemoração.
Do 25 de Abril ficam as más memórias.
À abrilada devemos uma das mais negras páginas da nossa História, com o pseudo processo de descolonização, que mais não foi do que uma entrega abrupta dos territórios ultramarinos sob a nossa responsabilidade aos partidos locais fidelizados a Moscovo, abandonando à sua mercê as respectivas populações, sem que estas tenham tido a oportunidade de serem consultados sobre o seu futuro.
Como consequência de tamanha irresponsabilidade e de traição a quem nasceu português, deixámos os novos países entregues a sangrentas guerras civis, das quais resultaram centenas de milhares de mortos, sobretudo de angolanos, moçambicanos, guineenses e timorenses.
Territórios então entre os mais prósperos de África, foram condenados à miséria e à pobreza, situação em que ainda hoje permanecem.
À abrilada devemos, ainda como resultado da vergonhosa rendição em África e na Ásia, ao refúgio e ao retorno forçado de mais de meio milhão de portugueses expulsos dos territórios ultramarinos, locais onde a grande maioria deles nasceu, tendo perdido os bens de uma vida inteira, e os das gerações que lá os antecederam, e vendo-se condenados a reiniciarem uma vivência a partir do zero e em paragens que desconheciam e que lhes foram hostis.
À abrilada devemos o roubo e as ocupações selvagens dos meios de produção nacional, nomeadamente a banca, os seguros, as grande empresas, as explorações agrícolas e os transportes, afundando uma robusta economia, então com um crescimento notável muito acima da média mundial, e substituindo-a por uma que teima em colocar os portugueses no grupo dos mais pobres entre os seus congéneres europeus.
À abrilada devemos as prisões arbitrárias, não apenas daqueles que estavam comprometidos com o antigo regime, mas também de milhares de inocentes que apenas temiam o rumo imposto à sua Pátria e contra essa fatalidade faziam ouvir a sua voz.
À abrilada devemos o exílio imposto aos mais importantes quadros do País, com as nefastas consequências que daí advieram para o tecido empresarial, desastre de que nunca nos recompusemos.
À abrilada devemos a vergonha de nos termos tornado pedintes, um povo que anteriormente não devera um tostão que fosse a ninguém, entregando-nos, por três vezes, nas mãos das garras da finança internacional, hipotecando, dessa forma, parte considerável da nossa soberania.
À abrilada devemos o advento de uma classe política corrupta, incompetente, entregue ao nepotismo e que se está marimbando para o interesse nacional e para o bem comum, preocupando-se apenas com as guerrilhas partidárias que a perpetuam no poder.
À abrilada devemos a construção de um Estado que estrangula os portugueses até à medula, sacando-lhes as suas poupanças através de impostos incomportáveis para os salários que auferem, apenas para satisfação dos caprichos dos governantes que esbanjam o erário com medidas eleitoralistas que somente visam captar votos e não desenvolver a sociedade.
A abrilada foi, assim, um percalço na nossa História.
E um azar, porque a abertura do regime que derrubou pela força teria sido inevitável, sem sobressaltos, como aconteceu no ano seguinte em Espanha, um país que se democratizou pacificamente, sem divisões irreversíveis dentro da sociedade, exactamente o contrário do que nós fizemos, obrigados a reconstruir um Estado sobre as ruínas que intencionalmente provocámos.
E atente-se que em 1974 Portugal estava mais desenvolvido do que o seu vizinho, com um crescimento económico bem superior ao que se verificava do outro lado da fronteira e com o escudo com mais do dobro do valor da peseta.
Hoje, nem vale a pena falar-se das diferenças gritantes entre os dois países!
Por todas estas razões não festejo o 25 de Abril. Presto antes homenagem ao 25 de Novembro, dia em que recuperámos o direito a nos expressarmos em liberdade.
Pedro Ochôa