As autoridades cingalesas estão a apertar o cerco aos responsáveis pelos atentados suicidas que vitimou mais de duzentas pessoas no domingo de Páscoa em Colombo, capital do Sri Lanka. Houve uma troca de tiros entre soldados cingaleses e alegados responsáveis pelos atentados quando os primeiros descobriram uma suposta fábrica de engenhos explosivos artesanais na cidade de Sammanthurai, a 300 quilómetros da capital, cercando-a. Houve uma explosão no local, segundo órgãos de comunicação locais.
Um porta-voz do exército revelou que houve uma explosão e que quando os soldados se aproximaram foram alvejados, entrando em combate com os suspeitos. O jornal cingalês Ada Derana avança que vários dos suspeitos se fizeram explodir, ouvindo-se mais explosões para além da inicial. As autoridades conseguiram encontrar no local 100 mil rolamentos de esfera, usados nos engenhos para produzirem estilhaços aquando da detonação, e 150 barras de explosivos gelatinosos – gelignite. Também foram encontradas bandeiras e uniformes do Estado Islâmico, bem como um veículo aéreo não tripulado com uma câmera.
As autoridades acreditam ainda que o local recém-descoberto foi usado para filmar o vídeo de lealdade ao líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Bagdadi. "Encontrámos o local que o grupo usou para filmar o vídeo", disse a polícia em comunicado.
O material apreendido mostra que a organização teve um financiamento substancial tanto para os atentados do domingo de Páscoa como para mais no futuro, fazendo da organização uma ameaça ainda maior do que se poderia pensar. As autoridades chegaram ao ponto de alertar nos últimos dias que mais atentados poderiam acontecer, obrigando-as a correr contra o tempo para neutralizar a organização terrorista. A polícia e exército cingaleses contam com a colaboração de serviços de informação estrangeiros e com o FBI norte-americano.
Pelo menos 140 pessoas já foram identificadas pelas autoridades e entre elas encontra-se um dos homens mais ricos do Sri Lanka, Mohammad Yusuf Ibrahim, conhecido por ter construído a sua fortuna com a venda de especiarias. Dois dos seus filhos, Ilham e Inshaf, de 31 e 33 anos, respetivamente, morreram nos atentados. Mohammad Yusuf Ibrahim foi detido pela polícia.
Além de ser rico, a surpresa foi ainda maior por Ibrahim ter sido agraciado pelo chefe de Estado cingalês, Maithripala Sirisena, por "serviços extraordinários a favor da nação". Mas também por um dos seus filhos ser uma pessoa de sucesso no país: Inshaf Ibrahim era dono de uma fábrica de cobre e casado com a filha de um joalheiro cingalês, a que se junta a fama de ser generoso e de ajudar os mais necessitados.
Perfil que contrasta com o do outro filho do empresário, Ilham Ibrahim. Este era conhecido pela sua adesão à ideologia jihadista e terá participado em reuniões do grupo terrorista local National Thowheed Jamath, acusado de ser o responsável dos atentados pelas autoridades do país. O Estado Islâmico já reivindicou o atentado terrorista, mas não deu quaisquer provas da sua autorida.
"Todos eles [recrutas muçulmanos] não são de famílias normais. São pessoas de famílias consideradas bem-educadas e de elite", disse o ministro da Educação e dos Assuntos Culturais cingalês, Wujeyadasa Rajapakshe.
Não obstante, as autoridades já tinham avançado que a organização local seria incapaz de planear e executar um ataque simultâneo em oito locais diferentes – quatro igrejas e quatro hotéis – sem a ajuda de uma rede internacional. O National Thowheed Jamath era conhecida pelo seu ódio aos símbolos budistas e por vandalizar monumentos, mas não se lhe conheciam capacidades nem orientações terroristas.
Ilham não morreu nos atentados, mas sim quando as autoridades avançaram com uma rusga na sua habitação, onde se encontrava com a mulher e três filhos. Ainda não se sabe se foi ele quem detonou os explosivos, mas que alguém da família o fez.