Rafael Nadal não ganhou em Monte Carlo e quando venceu o seu primeiro encontro em Barcelona li que não foi ainda desta que perdeu dois encontros consecutivos em terra batida.
Há duas semanas Rafa era o favorito em todos os torneios na terra ocre. De repente já se contavam as derrotas seguidas!
O próprio “Touro de Manacor”, na ressaca do desaire diante de Fabio Fognini, disse ter efetuado uma das suas “piores exibições em terra batida nos últimos 14 anos”.
Mesmo sabendo que estamos perante o melhor jogador de terra batida na história da modalidade, o extraordinário não é ter perdido numa fase em que as lesões impedem-no de treinar e competir convenientemente.
Extraordinário é ter ganho 11 vezes em Roland Garros, 11 vezes em Monte Carlo, 11 vezes em Barcelona e 8 vezes em Roma. Estamos tão acostumados a vê-lo arrasar a concorrência que não valorizamos o privilégio de testemunharmos o maior domínio de sempre de uma superfície por parte de um jogador.
Idolatrei Bjorn Borg (o rei da terra batida até aparecer o Rafa) e vi campeões do pó de tijolo como Guillermo Vilas, Mats Wilander, Ivan Lendl, Thomas Muster, Gustavo Kuerten. Mas os registos de Nadal nesta superfície são impensáveis para qualquer outro.
Aos 32 anos, Rafa está preso por arames. Não gostou que o seu tio Toni dissesse que é “um homem lesionado que joga ténis”, mas é a realidade.
Habituámo-nos – ele incluído – a que todos os seus regressos à competição após prolongadas ausências do circuito sejam bem-sucedidos.
Mas o que ele tem feito ao longo da carreira, como este ano ao chegar à final do Open da Austrália depois de mais uma lesão, ou o que Roger Federer fez em 2017, após uma longa paragem, não é normal, é extraordinário.
Normal é o processo longo, física e mentalmente doloroso, que se viu nos últimos anos com Novak Djokovic, que superou um calvário para voltar a ser o melhor tenista do Mundo.
Nadal explicou-o bem em janeiro: com o físico limitado, tem treinado mais o jogo ofensivo. Quando obrigado a defender, está longe do seu melhor em termos de mobilidade, de consistência de jogo e de confiança. Na terra batida essas características eram parte do seu sucesso. Djokovic explorou essas lacunas defensivas em Melbourne e Fognini fez o mesmo em Monte Carlo.
Se o corpo aguentar, veremos mais tarde ou mais cedo o mesmo Rafa de sempre. Caso contrário (e esta semana tem-se queixado do pulso esquerdo), teremos novos campeões na terra batida, nesta época curiosa de 22 jogadores terem ganho os 23 torneios disputados até ao momento no circuito masculino e de 18 jogadoras terem conquistado os 18 torneios do circuito feminino.