Nos primeiros três meses do ano morreram em Portugal 75 crianças com menos de um ano de idade. Os dados foram divulgados esta semana pela Direção Geral da Saúde, que reforçou o acompanhamento da mortalidade de infantil depois do aumento dos casos em 2018. No final de janeiro foi criado um grupo de trabalho para estudar os resultados, considerados preocupantes pela Ordem dos Médicos. Três meses depois ainda não há conclusões.
Fonte oficial da DGS indicou ao SOL que o grupo, coordenado pelo subdiretor-geral da Saúde Diogo Cruz, não tem um prazo para apresentar conclusões. «É um tema prioritário mas não há data estabelecida», disse a mesma fonte.
Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, consultor do grupo de trabalho da DGS, explica que foi feito um relatório preliminar, mas entretanto foram pedidos mais dados à DGS, por entenderem que a informação disponibilizada não permite chegar a conclusões. Os trabalhos estavam a centrar-se em torno da mortalidade neonatal, até aos 28 dias de vida, mas os médicos defendem que é preciso avaliar todos os casos: perceber em que circunstâncias nasceram as crianças, se eram grandes prematuros e se tiveram intervenções médicas que deixaram sequelas. «Há uma lista enorme de perguntas que precisam de ser respondidas. É bem possível que venhamos a concluir que estas crianças nasceram com determinadas patologias, foram submetidas a intervenções médicas mais ou menos agressivas, que os cuidados foram adequados e que não haveria nada a fazer para poder salvá-las, mas precisamos da confirmação disso», diz ao SOL o médico.
Na nota emitida esta semana, a DGS assinala que é possível apontar algumas tendências que podem influenciar o prognóstico, como o «local de residência, o aumento crescente da idade da mãe e os antecedentes obstétricos». O organismo considera que os 75 óbitos desde o início do ano mantêm o padrão que fez soar os alarmes em 2018 – 77 mortes no primeiro trimestre e 281 em todo o ano. Ainda assim, como os nascimentos estão a aumentar, a taxa de mortalidade infantil pode vir a ser menor.
O Instituto Nacional de Estatística confirmou esta semana que em 2018 a taxa de mortalidade infantil foi de 3,2 óbitos por mil nados vivos, um aumento face a 2017 e um valor idêntico ao de 2016. Antes da crise, em 2010, Portugal chegou a registar uma taxa de mortalidade de 2,5 óbitos por mil nascimentos, tendo havido um pico em 2014 (3,4). Dados do INE consultados pelo SOL revelam algumas tendências nos últimos anos e que até ao momento não foram objeto de comentário por parte da DGS. Têm estado a aumentar sobretudo as mortes de bebés «afetados por fatores maternos e complicações da gravidez, do trabalho de parto e do parto». Em 2017, ano em que a taxa baixou, registaram-se 45 óbitos devido a complicações desta natureza. Em 2010, quando em Portugal nasciam mais 15 mil crianças por ano do que atualmente, foram apenas 11. No mesmo período, houve uma diminuição de outras causas de morte, por exemplo problemas do foro respiratório.