A liderança de Carlos Santos Ferreira, que esteve à frente da Caixa Geral de Depósitos entre 2005 e 2007, foi das mais contestadas pela auditoria realizada pela EY entre 2000 e 2015. Durante o seu mandato o banco público registou lucros recorde, mas também algumas das decisões mais ruinosas. Na lista dos 14 créditos que mais prejuízos provocaram, apenas dois não foram concedidos durante o mandato de Santos Ferreira.
Entre os créditos mais ruinosos atribuídos na altura estão os financiamentos dados a Joe Berardo para comprar ações do BCP e o investimento da CGD no resort de Vale do Lobo, investimento esse que foi investigado pelo Ministério Público no âmbito da Operação Marquês. Os procuradores acreditam que José Sócrates teve influência na decisão da CGD.
Esta semana, no Parlamento, o ex-presidente do banco público negou que tenha cedido créditos a favor, nem que permitisse concluir que Joe Berardo foi tratado de forma especial, considerando mesmo que isso seria uma «ilegalidade». E em relação ao empréstimo dado ao empresário, Santos Ferreira recordou que foram quatro os bancos que financiaram a compra de ações do BCP, somando ao banco público o próprio BCP, BES e Santander Totta.
Quanto ao investimento em Vale do Lobo, Mariana Mortágua quis saber se foi o próprio Armando Vara que propôs esta operação. Santos Ferreira explicou que os grandes projetos eram apresentados ao conselho de administração antes de irem ao conselho de crédito. «Não conheço ninguém de Vale do Lobo, nunca aceitei convites para ir a Vale do Lobo, sou um antissocial».
Já em relação à sua convivência com José Sócrates considerou ser «normal», sem visitas a casa, e que nunca falou com o ex-primeiro-ministro sobre o convite para liderar o banco público. «O engenheiro [José Sócrates] está num momento particularmente delicado da vida dele. E deixe-me que lhe diga que eu não quero, com o que digo aqui, piorar a situação em que se encontra. Tínhamos uma relação normal entre membros do mesmo partido. Nunca falei com ele sobre o convite [para liderar a Caixa]. E as minhas palavras não podem ser vistas de forma alguma para fazer piorar uma situação que acho extremamente complicada e delicada», afirmou Santos Ferreira, que revelou conhecer Armando Vara há 20 anos, mas que não fazia ideia de que este iria para a administração do banco público.
Santos Ferreira não tem dúvidas em relação ao relatório da EY sobre concessão de crédito, considerando-o «factualmente infeliz», e garantindo que todas as decisões tomadas quando liderava o banco cumpriram as normas existentes. «O relatório é factual mas factualmente infeliz», acrescentando que este processo tem permitido «juízos de valor lesivos» e que houve quem o tivesse aproveitado para «ajustes de contas pessoais ou políticas».
Ainda assim, não afastou a hipótese de ter havido erros. Mas deu uma justificação: «Não gostava de negar que houve erros, era um período de euforia, tudo a correr bem e de um momento para o outro tudo desapareceu», afirmou.