A emoção foi muito forte. Era algo que todos nós perseguíamos há muito tempo. De repente, descarreguei toda a alegria, toda a satisfação de um sonho cumprido, tantos e tantos sentimentos misturados que estavam dentro de mim. Gratidão também. Gratidão para com todos os que tornaram possíveis estes resultados. De orgulho! De orgulho pelo que vi ser feito pela equipa que tenho o prazer, ou melhor, o privilégio de liderar. Sobretudo felicidade! Felicidade por termos finalmente conseguido aquilo que tanto desejámos». Nuno Dias explicava assim, em entrevista ao i, o que sentiu após a conquista histórica alcançada pelo Sporting no Cazaquistão, que terminou com o técnico e os jogadores em lágrimas. Desta vez, as lágrimas certas. Depois de três tentativas falhadas, os leões alcançaram finalmente o inédito título europeu que há muito ambicionavam. O_técnico foi um dos obreiros principais desta vitória, por mais que continue a tentar evitar a todo o custo falar do papel preponderante que assumiu durante todo o caminho. «Todo o espírito de equipa, toda a solidariedade, toda a cooperação… A confiança que demonstrámos. Acabámos por ser felizes mas também merecemos toda a felicidade», dizia ao canal do clube. Depois de ter adiado nos últimos dois anos os festejos do troféu europeu – perdeu para o Inter Movistar a decisão da prova de 2018 e 2017 – a equipa leonina vingou-se ao deixar pelo caminho a equipa espanhola que conta com o português Ricardinho (nas meias-finais) e colocou, depois, um ponto final no choro prolongado das últimas duas edições. A angústia verde-e-branca prolongava-se, de resto, desde 2010/11, altura em que o Sporting chegou pela primeira vez à final do Europeu de futsal, que perdeu para o Montesilvano, à data sob o comando de Orlando Duarte.
Foi precisamente para o lugar do técnico lisboeta que Nuno Dias foi chamado, tendo sido apresentado como o novo treinador da equipa de futsal de Alvalade a 2 de julho de 2012. Antes tinha orientado o Instituto D. João V – nas cinco épocas em que orientou a equipa do Louriçal chegou por duas vezes às meias-finais do play-off do Campeonato Nacional, em 2009/10 e 2010/11 e uma vez às meias-finais da Taça de Portugal, em 2009/10 – e, depois, na época 2011/12 transferiu-se para a Rússia, onde foi adjunto de Paulo Tavares no CSKA de Moscovo.
No Sporting, Nuno Dias não demorou a provar o seu valor e a sua primeira época fica marcada pelo domínio da modalidade em Portugal, com a conquista do Campeonato Nacional e da Taça de Portugal, terminando com um registo impressionante de 37 vitórias nos 39 jogos disputados. A querer mostrar que não era sorte de principiante voltou a dar que falar na seguinte época: arrancou a temporada de 2013/14 com duas conquistas, a Taça de Honra da AFL (a primeira disputada em Portugal) e a Supertaça. E terminou do jeito que sabia, a vencer, claro, o campeonato português, o segundo da conta pessoal (e o 12.º da história dos leões).
Missão: chegar ao topo da Europa
Além da hegemonia leonina em solo português, havia outra missão reservada: chegar ao topo da Europa. E foi com essa meta que o clube decidiu afinar o plantel. Na época de 2014/15, o técnico de Cantanhede apostou no reforço da equipa com cinco novos jogadores. Aumentar a equipa, e consequentemente, as opções táticas acabaria, porém, por revelar-se uma estratégia infrutífera, com o Sporting a não ir além da vitória na Supertaça nessa temporada – que ficou, de resto, marcada pela derrota do título na final com o eterno rival Benfica.
A época falhada conduziu a uma profunda reestruturação no plantel, desta feita com sucesso, com o Sporting a conquistar todas as quatro competições oficiais em que participou em 2015/16: Campeonato Nacional, Taça de Portugal, Taça da Liga e Taça de Honra da AFL.
O verão de 2015 ficou marcado pela entrada de três italo-brasileiros – Merlim, Cavinato e Fortino – e do guarda-redes Marcão. O resto já se sabe: a partir partir deste momento, os leões foram sempre campeões de Portugal, repetindo o segundo tri da história. Mais: a equipa de Nuno Dias começava a ser presença assídua nas fases finais da Champions.
Mas neste campo faltou sempre alguma coisa. Até ao passado fim de semana.
Diga-se, contudo, que houve uma mudança esta época que também provou ser essencial na mudança deste rumo: a contratação do guarda-redes internacional brasileiro Guitta, número um da seleção e do Corinthians, que provou ser capaz de fazer defesas que valem… títulos, precisamente.
O sonho está, agora, cumprido. Mas o foco mantém-se. No Sporting. Mudar não faz sentido para Nuno Dias, que confessou que mesmo antes deste título inédito as portas para o estrangeiro já estavam abertas. Não quer entrar por aí. Até por que já tem novo meta histórica definida: o tetracampeonato. «Sinceramente, ir para o estrangeiro não me atrai. Estou no Sporting. Não posso querer melhor! […] Agora queremos ganhar o tetracampeonato. Coisa que o Sporting nunca conseguiu», adiantou na mesma entrevista ao i.
Está feliz. E não podia ser de outra maneira.
Quem procura, acha. E, afinal, aos 46 anos, Nuno Dias nunca desistiu de merecer a felicidade. Que, no final, distribui sempre por todos. Só faz sentido se for partilhada.
«Depois, o futuro se verá» .
Sem pressa. Ainda é hora de festejar.