O ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes confirmou esta tarde no Parlamento que recebeu um telefonema a 18 de outubro de 2017 da então Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, em que esta se mostrava incomodada com o facto de a Polícia Judiciária Militar (PJM) não estar a respeitar a sua decisão de entregar a investigação do furto de Tancos à PJ civil. Ou seja, nesse momento Azeredo Lopes passou a ter conhecimento de que havia uma investigação em curso por parte da PJM.
A chamada de Marques Vidal aconteceu no mesmo dia em que apareceu o material de Tancos na Chamusca e numa altura em que a PGR não conseguia chegar à fala com o diretor-geral da PJM.
Não sabia que informador era o “criminoso”
Sobre o memorando que foi entregue pelo diretor da PJM Luís Vieira e pelo porta-voz daquela polícia Vasco Brazão ao então chefe de gabinete de Azeredo Lopes, general Martins Pereira, dois dias depois da chamada da PGR, e onde se dava conta de que o material tinha sido recuperado com recurso a um informador, o ex-ministro da Defesa Nacional disse ontem não se recordar de ter visto o documento fisicamente, mas que lhe foi transmitido o essencial do seu teor.
“Havia um informador, que não podia ser identificado e que aquilo que se tinha pedido era que estivesse alguém na margem sul para receber informações com indicação de onde estariam as armas”, afirmou hoje Azeredo Lopes rejeitando sempre ter tido conhecimento de que em causa estava um “acordo com os criminosos”.
Mas o deputado do CDS Telmo Correia insistiu, lendo parte do memorando entrgue nessa reunião ao chefe de gabinete de Azeredo Lopes: “Sempre com a condição de não envolvimento da PJ e que se o acordo não fosse cumprido o material não aparecia e que a família de Major Brazão não iria ter descanso”.
Não acrescentando mais nada, Azeredo Lopes disse que já havia esclarecido em que contornos havia tido acesso àquele documento – ou seja, através do chefe de gabinete – que considera não ser um memorando, mas um documento “apócrifo”.
Não fez nada, porque ficou à espera da PGR
Mas se por um lado foi tendo conhecimento de alguns detalhes, como a existência de um informador, por outro, diz, nunca deu conhecimento desses contornos ao primeiro-ministro.
O que fez então? “Fiquei à espera para verificar se a procuradora mantinha a intenção de avançar com procedimentos disciplinares” –isto apesar de ter apelado à “clemência” da ex-PGR no telefonema, uma vez que as armas tinham sido descobertas, ainda que “ao arrepio das regras”.
Apesar de não ter informado sobre detalhes, adianta que comunicou em Conselho de Ministros os receios transmitidos na reunião entre os dois elementos da PJM e o seu chefe de gabinete.
Azeredo Lopes considera porém que nunca faltou ao “dever de diligência”, sobretudo tendo em conta o momento que se vivia no país, após um verão de incêndios drástico e a demissão da ex-ministra da Administração Interna.
Ministério ajudou PJM a fazer comunicado
Na audição de hoje foi ainda revelado que o Ministério da Defesa Nacional ofereceu-se para ajudar a fazer o comunicado relativo ao aparecimento das armas. O antigo governante salientou, porém, que “o comunicado não foi condicionado pelo Ministério da Defesa”.
O que Azeredo Lopes não aceitou fazer foi avaliar a sua prestação nem sequer dizer se achava que tinha havido uma boa condução deste caso.