O século XX europeu foi marcado por duas guerras de tendência suicidária, cuja última foi qualificada por Churchill como a «mais fácil de prever na história».
Não obstante conhecermos os erros do passado, e as suas consequências, o que leva hoje milhões de europeus a abraçarem os discursos simplistas dos novos bárbaros?
Apesar do êxito do projeto europeu, será que as pessoas reconhecem este êxito à UE? Sim, os europeus reconhecem o êxito da UE na construção da paz e na prosperidade, mas sentem há muito que a UE não tem de contacto real com os seus anseios e necessidades.
Nada disto é novo, mas pouco tem sido feito para diminuir este sentimento.
Surpreendentemente, os europeus são maioritariamente favoráveis à imigração, ainda que receosos do seu efeito no aumento do terrorismo no território continental.
Estes dados, para além do lugar-comum de sabermos que as maiorias das pessoas são moderadas, dizem-nos que os líderes europeus não se preocupam efetivamente em aproximar-se dos cidadãos. Não se preocupam, porque mantêm o pensamento sobretudo em lógicas nacionais.
Helmut Kohl, histórico chanceler alemão, com forte memória da guerra, soube fazer da então RFA a potência benigna europeia. Kohl percebeu que o seu problema não era meramente de aritmética eleitoral nacional. Foi essa sabedoria que criou as condições favoráveis à reunificação alemã, após a queda do muro de Berlim.
O anterior ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble não teve a mesmo inteligência política quando hostilizou a Grécia ou Portugal, na crise das nossas vidas. Alguns adeptos da servidão voluntária continuarão a dizer que a culpa foi toda de quem viveu acima das suas possibilidades quando, na verdade, Schäuble já reconheceu ter ido longe demais. Por quê e para quê ninguém saberá, mas o resultado está à vista: o povo grego é hoje quem tem o pior sentimento em relação à UE.
Durante as últimas décadas, muitos líderes nacionais apresentaram ao povo cada cimeira da UE como um momento de ganhos ou de perdas, esquecendo que as perdas ou os ganhos devem ser contabilizados de modo coletivo na União – não foram apenas as lideranças alemãs pós-Kohl que se ‘esqueceram’ da pedagogia do modelo.
Precisamos agora de regressar à base: explicar história, explicar as instituições a cada cidadão europeu e regressar a uma lógica de ganhos comuns. Regressar à política e ao sentimento que estamos a construir um edifício complexo, que exige cuidado e sensibilidade. As preocupações dedicadas ao sistema financeiro devem ter reflexo na criação de emprego e na formação dos cidadãos para os desafios da 4.ª revolução industrial.
Partimos para estes desafios com algumas décadas de atraso, mas nem tudo está irremediavelmente perdido. É obrigação dos líderes, e de cada um de nós, mostrar os riscos que se escondem por detrás do discurso inflamado dos populistas.
Na Europa, sempre que os nacionalistas foram bem-sucedidos, milhões vieram a perder a vida.