A política de erradicação do tráfico de drogas no parque berlinense de Görlitzer pela polícia falhou e, para tentar minimizar os efeitos do tráfico de droga, a gerência do parque decidiu criar zonas específicas para os traficantes poderem vender os seus produtos ilegais. A delimitação destas áreas estão pintadas com spray cor-de-rosa.
"Este método tem uma razão puramente prática por detrás", explicou Cengiz Dmirci, psicólogo social responsável por implementar uma nova estratégia aprovada pelo senado berlinense, à rádio local RBB. "Não estamos a legalizar a venda de drogas", garantiu. O psicólogo social recebeu ordens para não falar à imprensa, mas fê-lo à rádio local antes de receber a ordem.
Dmirci não se fica por esta abordagem e defende mesmo que as autoridades deviam dar licenças de venda aos traficantes de droga, mas para que assim fosse as drogas, como a canábis, teriam de ser legalizadas, o que não parece estar no horizonte na Alemanha.
O psicólogo social não está sozinho na defesa desta nova abordagem. O vereador de Berlim Florian Schmidt, dos Verdes, saiu a terreiro dizendo que "as vendas de drogas só podem ser deslocadas. Temos que lidar com a realidade". Ao longo das últimas décadas, a abordagem proibicionista e securitária tem mostrado muito poucos resultados no combate ao tráfico e consumo de droga.
Nos últimos anos, o parque tem sido cada vez mais frequentado por traficantes de droga, que, por sua vez, interagem com quem por lá passa, sejam jovens ou mais velhos, aliciando-os. Por vezes, atuavam em grupo e intimidavam as pessoas, fazendo com que a população receasse por lá passar.
Com a delimitação das zonas, Dmirci espera que a clientela dos traficantes reduza ao ponto de apenas quem quiser comprar mesmo entre em contato com os traficantes, evitando o aliciamento de novos potenciais clientes.
No entanto, nem todos concordam com esta nova estratégia. A polícia de Berlim contesta esta nova abordagem por não fazer com que o parque seja uma zona livre de drogas, defendendo que, ao invés, normaliza o tráfico. "O que é preciso é garantir que o parque é uma zona livre de drogas e crime, com uma constante presença policial e determinação judicial", disse Benjamin Jendro, dirigente do sindicato de polícia da capital alemã, ao Bild. "Qualquer pessoa que trafique drogas está a cometer um crime", concluiu.
Um deputado do parlamento regional de Berlim, Bernhard Dregger, criticou a abordagem afirmando que "a criação de locais é um convite para a violação da lei". Opinião partilhada por Marlene Mortler, comissária alemã das drogas e membro da CDU: "Se isto for verdade, é uma capitulação do Estado de Direito". "Não podemos dar licenças de venda a traficantes", sublinhou.
Linha que tem sido defendida também pelo ministro do Interior de Berlim, Frank Henkel. Em abril, o governante garantiu que as autoridades iriam implementar uma estratégia de "tolerância zero" para com traficantes de droga no parque Görlitzer, mas quem por lá passa garante que nada mudou.
A nova estratégia de Dmirci começou a ser agora implementada e será necessário algum tempo para se aferir os seus resultados concretos.