O povo iraniano deve preparar-se para as maiores dificuldades desde a guerra com o Iraque, na década de 80. Quem o disse foi o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, quando as sanções norte-americanas ao país de maioria xiita estão a endurecer. “Hoje, não se pode dizer que as condições sejam melhores ou piores que no período de guerra [entre 1980 e 1988]”, disse Rouhani à televisão estatal iraniana IRNA. “Mas durante a guerra não tivemos problemas com os nossos bancos, vendas de petróleo ou importações e exportações, e havia apenas sanções à compra de armas”, explicou o chefe de Estado, referindo que as “pressões dos inimigos é uma guerra sem precedentes na história” do regime islâmico. E, pelo meio, pediu ao povo iraniano unidade para resistir aos Estados Unidos.
Mas as pressões norte-americanas ao regime xiita não são apenas económicas ou petrolíferas, mas também militares. Washington enviou um porta-aviões e bombardeiros para o Golfo Pérsico e, agora, vai enviar sistemas antimísseis Patriot para o Médio Oriente, desconhecendo-se para que países.
Quanto ao porta-aviões, um dos principais comandantes dos Guardas Revolucionários iranianos, Amirali Hajizadeh, garantiu que já não é uma “ameaça”, como o foi no passado, mas sim uma “oportunidade”. “Um porta-aviões com pelo menos 40 a 50 aviões e seis mil militares era uma séria ameaça para nós no passado, mas agora a ameaça transformou-se em oportunidade”, disse o comandante à ISNA, acrescentando que “se [os norte-americanos] fizerem um movimento vamos atingi-los na cabeça”. É comum a liderança do ramo paramilitar da Revolução Iraniana tecer ameaças deste género sempre que a tensão aumenta. Ainda assim, o risco de escalada bélica não pode ser descartada, com ambos os lados a ponderarem sobre quais os próximos passos a dar.
O Irão deverá, avança a CNN citando fontes da comunidade de informações norte-americana, deslocar mísseis balísticos de curto alcance e mísseis cruzeiro para a zona, podendo ser disparados a partir de pequenos navios de guerra. Relembre-se que o Irão consegue, se assim o desejar, bloquear o Estreito de Ormuz, por onde passa quase um quinto da produção mundial de petróleo. É a sua grande e última cartada no confronto com os EUA, mas, caso o faça, a consequência poderá ser a guerra.
Teerão já tinha acusado Washington de fazer “guerra psicológica” contra si com o envio do porta-aviões USS Abraham Lincoln e voltou a reafirmá-lo pela voz do líder dos Guardas Revolucionários, major-general Hossein Salami, no parlamento, na sexta-feira. “O comandante Salami, atendendo à situação na região, apresentou uma análise de que os norte-americanos começaram uma guerra psicológica por a vinda e ida dos seus militares ser algo normal”, disse Behrouz Nemati, porta-voz do parlamento iraniano, ao site de notícias ICANA.
Recorde-se que Teerão anunciou na semana passada a saída parcial do acordo nuclear, assinado em 2015 com a Alemanha, Rússia, China, França, Reino Unido e EUA – este último abandonou-o unilateralmente há um ano. O regime iraniano argumentou que as mais recentes sanções de Washington à exportação de urânio enriquecido impedem-o de continuar com o funcionamento das centrais nucleares civis se quiser respeitar o acordo. O Irão é, tal como estipulado no acordo, obrigado a não não armazenar mais de 3,67% da sua produção de urânio enriquecido, vendo-se obrigado a vender o excedente. Mas o fim das exceções à compra deste produto por alguns Estados, entre os quais a China, Índia e Turquia, e as sanções ao setor bancário impedem-no de o vender, continuando-o a armazenar. Segundo as Nações Unidas, Teerão sempre respeitou o acordo nuclear.
Além de violar o acordo se continuar a produzir energia elétrica, Teerão também deixa de receber uma quantidade substantiva de divisas com a sua venda com as sanções ao setor bancário. O Irão vê-se, assim, privado dos benefícios que o acordo nuclear lhe dava em troca de travar o desenvolvimento do seu programa nuclear com fins militares.