A extrema direita e a globalização sem alma

«A pobreza passou dos mais velhos, para os jovens e as crianças». Bruno Palier The´Future of the Capitalism da autoria de Paul Collier, é um livro que muitos dos que defendem o capitalismo devem ler. E o mesmo se sugere aos que o combatem.  O livro é um relevante contributo para aquilo a que poderemos…

«A pobreza passou dos mais velhos, para os jovens e as crianças».
Bruno Palier

The´Future of the Capitalism da autoria de Paul Collier, é um livro que muitos dos que defendem o capitalismo devem ler. E o mesmo se sugere aos que o combatem. 

O livro é um relevante contributo para aquilo a que poderemos chamar ‘capitalismo ético’. Perante a situação que vivemos, com o aumento das diferenças na distribuição da riqueza, com o recrudescimento das desigualdades sociais, económicas e culturais, quer no hemisfério Sul quer no Norte, urge repensar o capitalismo. 
Como refere Bruno Palier, investigador da Sciences PO de Paris, a pobreza tem vindo a estender-se, a tornar-se larvar, não só nos mais velhos mas entre os jovens e as crianças. Este caldo político e social tem contribuído para enfraquecer a fronteira que durante muitos anos nos protegeu dos populismos e dos nacionalismos – nuns casos escondidos, noutros nem tanto. 

Hoje não podemos dizer que estamos imunes aos populismos, aos nacionalismos e aos racismos de tão má memória. Até porque muitos deles usam fato e gravata e até lenço no bolso do casaco. E vestem Prada e outras marcas que representam incoerentemente muito do que combatem. 

A sociedade aberta, alimentada pelas revoluções tecnológicas vaticinadas há décadas por Alvin Toffler e André Glucksmann, tem alimentado aquilo a que a extrema-direita chama de ‘globalização sem alma’, servindo como uma espécie de alimento ideológico que tem contribuído para agigantar fantasmas como a perda de soberania, o efeito papão das fronteiras abertas, a perda das identidades, a diabolização das classes políticas e dirigentes. 

Eles e nós. Os bons e os maus. Já para não esquecermos o complexo de superioridade ética e moral dos do ‘antissistema’ contra os do ‘sistema’. Tudo muito sustentado pela devassa e não pela transparência. Pelas mentiras que encantam em detrimento das verdades que incomodam. 

A recente criação da Internacional Nacionalista e de uma coligação antieuropeia (e não eurocética, registe-se…) para se apresentar às próximas eleições europeias, obrigam os cultores da democracia demoliberal, do Estado de Direito Democrático, a mudar de estratégia e de argumentário para combater essas forças. Forças que – em parte como as extremas-esquerdas – se alimentam de problemas e perceções que não colam com a realidade económica, social, cultural e política. A globalização sem alma não é consequência direta do choque de civilizações e de religiões.

Os moderados não podem vacilar perante aparentes inevitabilidades de que só ‘roubando’ o discurso e a ‘praxis’ à extrema-direita é que se conseguirá vencê-la, derrotá-la.

A firmeza dos princípios, a proclamação dos valores, associados aos direitos, liberdades e garantias, ao respeito dos direitos humanos, é que melhor poderão vencer os extremos e promover mais e melhor desenvolvimento económico, social e cultural. 

O esbatimento das desigualdades que não fazem sentido, especialmente em territórios como a União Europeia, não pode deixar de ser uma prioridade. Mesmo o capitalismo, independentemente da sua aplicação, tem de ser um capitalismo mais ético. Onde o humanismo terá de estar sempre presente.

Dentro de semanas os portugueses irão dizer-nos quanto valem quer a extrema-direita quer os populismos e a demagogia, que usam a democracia liberal para a colocar em causa. 

O discurso e a narrativa nacionalista portuguesa vai ter a primeira prova nas próximas eleições europeias. A segunda prova irá ocorrer ainda este ano, com as eleições legislativas.

Haverá tempo para balanços. Quanto mais não seja para interpretar, por um lado, e para confirmar, por outro, que continua a existir uma grande diferença entre o que os portugueses através do voto valorizam (ou não) nos partidos e nos protagonistas na extrema-direita e aquilo que eles representam nos media. 

Não é só com mais laicismo radical e com agendas ultra progressistas que na Europa e em Portugal melhor se combaterão estes extremos. Antes pelo contrário. Até porque a memória dos povos vale mais do que muitos tratados e convenções.

olharaocentro@sol.pt

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