Joaquim Caetano à frente do Museu Nacional de Arte Antiga. “Este museu é uma ficção”, diz diretor de saída

Nome foi anunciado esta segunda-feira pelo Ministério da Cultura, depois de fim de semana marcado pelas críticas de António Filipe Pimentel. Tutela agradece “dedicação com que desempenhou funções”

Joaquim Caetano assumirá em junho o cargo de diretor do Museu Nacional de Arte Antiga. O nome foi anunciado esta segunda-feira pelo Ministério da Cultura, depois de um fim de semana marcado pelas críticas de António Filipe Pimentel, que pediu demissão do lugar no início do ano. Numa entrevista ao “El País”, Pimentel acusa o governo de desinvestimento. Em comunicado, a tutela nada refere sobre a situação atual da instituição, agradecendo “a António Filipe Pimentel a dedicação com que desempenhou as funções de Diretor deste Museu Nacional”.

Joaquim Oliveira Caetano, que assumirá agora a liderança da instituição, era até aqui conservador da coleção de pintura do Museu Nacional de Arte Antiga. Segundo a nota curricular divulgada pelo Ministério da Cultura, começou a trabalhar no Museu Nacional de Arte Antiga em 1991, dentro do programa de inventário nacional dos bens culturais móveis. Entre 1997 e 1999 trabalhou na Biblioteca Nacional de Portugal. De 2000 a 2010 foi diretor do Museu de Évora, hoje Museu Nacional de Frei Manuel do Cenáculo. Regressou ao Museu Nacional de Arte Antiga em 2010.

Na entrevista ao “El País”, publicada este domingo, António Pimentel, que ocupou o cargo durante nove anos, fala de um desinvestimento na instituição em matéria de recursos humanos, condições financeiras e administrativos. “Há um abandono do Estado, que não assume este projeto como seu”, diz. “Desde 2014 que alerto para os problemas crónicos do museu e não tive resposta.”

Na mesma entrevista, António Pimentel refere uma “divergência filosófica” entre a direção do museu e o ministério. “Vai ser muito difícil chegar ao final deste mês com dignidade.”

O diretor demissionário diz que há 30 anos o Museu Nacional de Arte Antiga tinha 137 funcionários “para um espaço mais pequeno e com menos visitas”. Hoje, “do diretor ao jardineiro”, são 67.

A ausência de orçamento é outras das críticas feitas na entrevista. “As receitas das entradas vão para o ministério, da loja também. A loja está fechada há alguns dias porque se avariou o computador. Há meses que não há luz na escada dos funcionários e para subir usamos a lanterna do telemóvel. Também não podemos contratar vigilantes. Nem sequer somos donos das fotografias das obras que exibimos. Só podemos usar cinco ou seis por exposição para cedê-las à comunicação social. Se queremos mais, temos de as comprar ao ministério”. António Pimentel descreve que parte das dificuldades têm sido ultrapassadas com o apoio do Grupo de Amigos do Museu, que entrega receitas das suas iniciativas à instituição. “Assim conseguimos comprar as lâmpadas das salas quando se fundem. Se estivéssemos à espera que a Administração comprasse focos adequados para as obras, as 80 salas estariam às escuras. Este museu é uma ficção, uma invenção desta direção, pois faz exposições com meios que não são públicos.”