Uma escola no Ohio, nos Estados Unidos, foi obrigada a fechar portas e a enviar mais de 300 alunos e 25 funcionários para casa depois de as autoridades terem encontrado indícios de urânio enriquecido e neptúnio-237 no ar, nas imediações da escola. O estabelecimento de ensino tem nas suas proximidades uma antiga central nuclear que em tempos produziu urânio enriquecido para o programa militar nuclear norte-americano.
A Zahns Corner Middle School permanecerá fechada, anunciaram as autoridades, até “a fonte, a extensão, o nível de contaminação e os potenciais impactos para a saúde pública e ambiente possam ser determinado”. Todavia, explicou o superintendente Todd Burkitt à WLWT, “não existe um guião sobre como lidar” com a situação, com as autoridades a “escreverem o guião à medida que avançam”.
Esta recente descoberta pode explicar o porquê de, nos últimos cinco anos, cinco estudantes terem sido diagnosticados com cancro, com três a falecerem. Mas também criar receios e medos entre a população de pouco mais de dois mil habitantes sobre saúde e segurança. “Não se quer fazer uma alegação que não se possa justificar. Como é que isto foi causado? É um cancro genético? É um cancro ambiental? Não sou profissional de saúde”, disse Jennifer Chandler, vereadora na cidade de Pinketon, onde a escola se encontra, à CNN.
Viviam-se os tempos da Guerra Fria quando a central nuclear de Portsmouth funcionava em pleno. Começou a produzir urânio enriquecido para o programa militar nuclear norte-americano em 1954. Finda a Guerra Fria, passou a apoiar reatores nucleares para produção de energia elétrica, até ser definitivamente encerrada em 2001. Foi descontaminada e desmantelada, processos que continuam até hoje. Não é raro haver centrais nucleares nas proximidades de aglomerados populacionais, seja nos Estados Unidos ou noutros países – as tragédias de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, e a de Fukushima, no Japão, em 2011, mostram-no.
A ameaça de contaminação passou despercebida durante anos e pode até ter sido desvalorizada ou ignorada pelas autoridades. Análises de rotina ao ar na área da central nuclear mostraram que a contaminação era elevada, mas o relatório de 2017 que o afirma apenas foi enviado à comunidade dois anos depois, segundo a vereadora. Em 2018, a monitorização ao estado do ar detetou radioatividade no ar, que se seguiram alertas à comunidade.
Mas a fonte da contaminação pode não ser a central, pelo menos diretamente. Em 2015, o Departamento de Energia e a Agência de Proteção Ambiental do Ohio estabeleceram um plano para descarregar mais de dois milhões de jardas cúbicas (1.5 milhões de metros cúbicos) de água pesada, usada para descontaminar os reatores nucleares, e construir uma instalação e depósito para tratar dos resíduos nucleares. O plano avançou no terreno em 2017 e desde esse ano que se a radioatividade é detetada.