Joe Berardo ‘muda’ de gabinete para o CCB

Quem conhece a dinâmica do CCB e do próprio Museu Coleção Berardo não estranha que parte dos assuntos da Metalgest sejam tratados a partir de Belém. Desde que os escritórios da Rua Rosa Araújo fecharam não há sequer uma morada fixa para quem quer contactar a empresa.  

A Metalgest, empresa de Joe Berardo instalada na Zona Franca da Madeira, deixou de ter escritórios na Rua Rosa Araújo, em Lisboa, há já algum tempo. E o trabalho que antes era despachado naquelas instalações por Berardo passou a sê-lo nas instalações do Museu Coleção Berardo, no Centro Cultural de Belém. Uma fonte, que preferiu não ser identificada, diz mesmo ao SOL que Joe Berardo «vai com alguma regularidade àquelas instalações», chegando «no seu RollsRoyce», e despacha trabalho da empresa de gestão.

Contactado ontem pelo SOL, Berardo disse que não queria comentar. «Não vou comentar coisas que são impossíveis, a Fundação do Museu Berardo não tem nada a ver [com a Metalgest]», afirmou. 

Berardo reforçou ainda: «Não vou dar informação nenhuma mais até porque estou em tribunal com coisas, cada um tem a sua responsabilidade. Não estou contra o seu serviço, acho que deve fazer o seu serviço, mas estou no momento com coisas importantes»

O certo é que basta uma chamada para o número geral do Centro Cultural de Belém a pedir informações sobre a empresa Metalgest e a chamada é, num gesto de simpatia, automaticamente transferida para o Museu da Coleção Berardo, o que demonstra que os colaboradores já têm sido por diversas vezes confrontados com ligações para a Metalgest.

Apesar da naturalidade com que as chamadas eram transferidas, esta semana as respostas de quem atendia do Museu chegavam depois de algum tempo em espera – para confirmação interna sobre se poderiam ou não indicar aquela morada para envio de correspondência para a Metalgest: «Não podemos receber aqui questões da empresa». 

Uma empresa, várias moradas

Numa consulta à página de internet da empresa – metalgest.pt –  a morada que continua a aparecer é a antiga: Rua Rosa Araújo, nº2 – 5.º andar. Mas, se se ligar para o número a pedir o endereço para onde se pode enviar correspondência, as respostas, esquivas, só são dadas depois de muitas questões. Em alguns casos quem liga recebe, por parte da funcionária, a indicação de que a morada para onde deve enviar qualquer correspondência é um apartado em Nogueira de Azeitão. Mas esta não é a única informação dada pelos funcionário desta empresa de gestão telefonicamente. Outro dos endereços fornecidos fica na Rua da Torrinha, no Funchal.

O SOL enviou ontem um email para a Metalgest, Sociedade de Gestão, SGPS, S.A. em que pedia um comentário a estas informações, mas não obteve qualquer resposta até à hora de fecho desta edição.

Banco? Banco é Caixa!

A Metalgest não é um nome muito conhecido, mas a realidade desta empresa de Joe Berardo tem estado diretamente ligada aos negócios ruinosos da banca que recentemente têm dominado a atualidade. 

Dos perto de milhões de dívida reclamada pela Caixa Geral de Depósitos, pelo Novo Banco e pelo BCP, a quase totalidade é da Metalgest e da Fundação Berardo. Foi por isso que a sociedade de gestão foi amplamente referida na audição de Berardo no Parlamento. Uma dessas referências surgiu na sequência de uma pergunta do deputado de Duarte Alves. O deputado do PCP queria perceber como é que a empresa com uma situação complicada havia conseguido um empréstimo de milhões.

«Como é que a Metalgest, que tinha 50 mil euros de volume de negócios e um EBTIDA negativo contraiu um crédito de 50 milhões de euros?», questionou.

Berardo, no que mais parecia o slogan de uma antiga campanha publicitária, não hesitou em atirar responsabilidades para o banco público, tentando assim dizer que a sua empresa nada fez de incorreto: «Perguntem à Caixa».

Mas além dos quase mil milhões de que tanto se fala atualmente, a Metalgest e Berardo já haviam visto um banco avançar para uma execução.

Há dois anos, segundo noticiou o Expresso, a Caixa Geral de Depósitos intentou uma ação contra a sociedade de Berardo. Em causa estava uma execução judicial contra a Metalgest no valor de 56 milhões de euros. 

A OPA ao Benfica

Mas a Metalgest foi também a empresa que Joe Berardo usou em 2007 para lançar uma Oferta Pública de Aquisição à Benfica SAD, uma operação que acabou por não avançar, uma vez que não conseguiu ir além da compra de 145 mil ações, ou seja, o equivalente a 1% do capital. A sociedade de Joe Berardo lançou a OPA sobre 85% do capital do Benfica e oferecia 3,50 euros por cada ação.