O Ministério da Cultura revelou na segunda-feira os nomes dos novos diretores de duas das instituições mais simbólicas da capital. Joaquim Caetano, conservador de pintura, substitui António Filipe Pimentel no Museu Nacional de Arte Antiga, e Dalila Rodrigues sucede a Isabel Cruz Almeida no Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém.
Pimentel já tinha anunciado a sua saída, manifestando por diversas vezes estar em desacordo com a tutela. Ainda no passado domingo o El País publicava uma entrevista em que o diretor do museu assumia uma «divergência filosófica» com o ministério e diaia: «Vai ser muito difícil chegar ao final deste mês com dignidade».
Há muito que o responsável se vinha queixando da falta de condições e de meios para gerir a instituição. Em setembro de 2016, num encontro da Escola de Quadros do CDS, proferiu uma afirmação que deu que falar: «De certeza absoluta que um destes dias há uma calamidade no museu. Só pode, porque andamos a brincar ao património». Também na entrevista ao diário espanhol, Pimentel referia as dificuldades com que se deparava no dia-a-dia. «Se estivéssemos à espera que a Administração [central] comprasse focos adequados para as obras, as 80 salas estariam às escuras. Este museu é uma ficção, uma invenção desta direção, pois faz exposições com meios que não são públicos». Em janeiro deste ano o diretor do museu criticara o Novo Regime Jurídico de Autonomia de Gestão dos Museus, Monumentos, Palácios e Sítios Arqueológicos, proposto pelo Governo. Na altura declarou: «O que a tutela mais gostaria era de calar a voz do Museu de Arte Antiga».
A autonomia do museu e a permissão para gerir as suas próprias receitas é uma luta antiga dos seus diretores. Dalila Rodrigues, que liderou a instituição entre 2004 e 2007, saiu pelos mesmos motivos. Na altura usou mesmo a expressão «estalinista» para descrever a organização centralizada da estrutura dos museus.
Espaço aberto à investigação
Doze anos depois desse episódio, Dalila passa a liderar o Mosteiro dos Jerónimos, o monumento pago mais visitado do país, com dois milhões de entradas registadas (sendo que a igreja, que não carece de entrada, registará cerca de seis milhões anuais).
Isabel Cruz Almeida, que esteve à frente dos destinos da Instituição durante 35 anos (desde 1984), sai em idade de reforma, mantendo-se no entanto ativa como vice-presidente da Associação World Monuments Fund Portugal, responsável por importantes restauros quer no mosteiro, quer na Torre de Belém.
Foi durante o seu consulado que o monumento serviu de cenário à assinaturra da adesão de Portugal à CEE, em 1985. A trasladação do corpo de Fernando Pessoa para o claustro , a que o historiador alemão Albrecht Haupt chamou «o mais belo claustro do mundo», ocorreu. No ano de 1998, durante a Expo, esteve ali exposto o Codex Leicester, o manuscrito de Leonardo da Vinci que pertence a Bill Gates.
Ao SOL, a responsável recordou também ter aberto espaços que antes estavam fechados ao público, como o coro alto e o refeitório, assim como toda a investigação que tem sido realizada acerca da história do edifício.
Exposições, aquisição e remodelação
Já a direção de António Filipe Pimentel, iniciada em 2010 (antes tinha sido Pré-Reitor da Universidade de Coimbra e estado à frente do Museu Machado de Castro, naquela cidade), ficou marcada por várias exposições temporárias (como A Cidade Global – Lisboa no Renascimento ou a da coleção do editor italiano Franco Maria Ricci, entre outras) e iniciativas como a campanha ‘Vamos Pôr o Sequeira no Lugar Certo’, que conseguiu angariar 750 mil euros para a aquisição da pintura A Adoração dos Magos, de 1828. A obra foi integrada nas coleções e exposta na nova configuração da galeria de escultura e pintura portuguesa.