Uma advogada de Braga foi acusada na última semana por crime de tráfico de droga agravado. Segundo o Ministério Público, tentou introduzir 96 gramas de haxixe no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, para além de 39 agulhas de seringas, dois carregadores de telemóvel, um cabo USB e um auricular, material destinado a um recluso.
Em 2017, quando foi detida, Manuela de Fátima Gomes Alves, de 41 anos, residente na cidade de Braga, negou qualquer tipo de envolvimento em atividades ilícitas, alegando que alguém teria colocado tais objetos dentro de um bolso do seu casaco. Ia à prisão com o pretexto de visitar outro recluso que não aquele a quem o haxixe se destinaria. Antes dos factos, ocorridos a 27 de fevereiro de 2017, a advogada tinha concorrido a juíza no Centro de Estudos Judiciários.
O Corpo da Guarda Prisional chamou a GNR de Paços de Ferreira e o caso passou para a investigação da Diretoria do Norte da Polícia Judiciária, estando desde então a advogada suspeita com termo de identidade e residência, a única medida de coação obrigatória e a mais leve, entre todas as medidas coativas contempladas pelo Código de Processo Penal.
Segundo o Ministério Público, uma mulher residente em Vila Verde, no distrito de Braga, terá entregue 180 euros como princípio de pagamento à advogada para que, alegadamente, a causídica entregasse a droga e os outros objetos ao seu companheiro, levando a que uma guarda-prisional e a GNR de Paços de Ferreira tivessem apreendido essa mesma quantia. Para o DIAP do MP de Penafiel, da Comarca de Porto Este, o acordo entre a advogada e a companheira do recluso terá acontecido três dias antes da visita, que acabou com a causídica apanhada em flagrante delito, quando passava o pórtico do estabelecimento prisional.
Por isso, a jovem, tal como o recluso em causa, Rafael da Silva Maia Guedes, de 28 anos, anteriormente morador na cidade de Braga, estão também acusados por crime de tráfico de droga agravado, imputação que ambos têm vindo a negar desde o início deste processo.
Para o Ministério Público, a mesma droga seria depois encaminhada para outros reclusos, se os guardas-prisionais não estivessem atentos e atuantes, tendo logo avançado para uma revista à advogada Manuela de Fátima Gomes Alves, que na ocasião manifestou ter ficado supostamente surpreendida.
Outro processo em Braga Entre os trunfos do Ministério Público estarão informações e escutas telefónicas gravadas e transcritas pelo Destacamento da GNR da Póvoa de Lanhoso, no distrito de Braga, que já então indiciariam suspeitas em redor da mesma advogada, tudo porque o nome da causídica terá sido referenciado pela investigação levada a cabo pela Guarda Nacional Republicana, antes do afastamento de dois operacionais, um cabo e um soldado.
Segundo apurou o i, caso esses dois investigadores criminais, com bastante experiência a tratar de casos de tráfico de droga e de criminalidade violenta, no Núcleo de Investigação Criminal (NIC) do Destacamento Territorial da GNR da Póvoa de Lanhoso, não tivessem sido afastados do departamento, o caso com a advogada bracarense podia ter sido evitado.
Depois de afastados, os dois operacionais viram os seus computadores devassados, o que levou a um processo criminal, no qual ambos são ofendidos e a buscas domiciliárias e no Quartel da GNR da Póvoa de Lanhoso, por parte da Polícia Judiciária de Braga, devido a alegado crime de devassa da vida privada contra intimidade do cabo e do soldado da GNR que foram transferidos para outros Postos, um caso que não foi justificado publicamente.
A segunda fase da investigação da GNR da Póvoa de Lanhoso acabaria por não chegar tão longe como teria sido possível, passando a ser desenvolvida por um sargento, depois transferido para Braga, na sequência do ambiente no NIC da GNR da Póvoa de Lanhoso.
Advogada negou tudo Apesar das tentativas de contacto com a advogada suspeita, inclusivamente junto da sua moradia, o i não conseguiu chegar à fala com a causídica para ouvir a sua versão dos factos ou se eventualmente irá requerer a abertura da instrução do processo em que foi acusada.
Pelas contas do Ministério Público, a droga apreendida daria para cerca de 140 doses, que à média de cinco euros cada uma, renderia pelo menos 700 euros, embora se saiba que os preços da droga e de outros produtos interditos têm um valor bastante elevado nas prisões.
Aquando da situação, em fevereiro de 2017, o bastonário da Ordem dos Advogados, Guilherme Figueiredo, afirmou ao Público que “a advogada já refutou que tenha qualquer tipo de responsabilidade”, não tendo então a advogada feito declarações públicas sobre o caso.
Esta arguida, que então se reuniu com o bastonário da Ordem dos Advogados, Guilherme Figueiredo, terá alegado que os objetos “foram ‘plantados’ na carteira que transportava”, tendo alegadamente indicado pessoas que disse suspeitar estarem envolvidos no esquema.
“Trata-se de uma circunstância anómala, os advogados sabem que podem ser revistados à entrada das cadeias para as visitas profissionais que fazem, porque é que levava então a droga e os outros objetos proibidos?”, questionou o bastonário da Ordem dos Advogados, acrescentando Guilherme Figueiredo que “a investigação irá certamente apurar se haveria mais alguém envolvido”, salientou em declarações então prestadas ao Diário de Notícias.