Lembro-me da primeira festa de Natal da escola como mãe. Recebi um convite para que fizesse com um sapato velho e material reciclado uma obra de arte para expor ao lado de outras semelhantes. Com o devido respeito por todas estas peças, inclusivamente pela minha, todas aqueles obras só me faziam lembrar uma ordenada exposição de lixo. Acho muito bem a reutilização de materiais caso possam ter utilidade, mas há que dizer que é o facto de fazermos a separação do lixo e de o colocarmos no devido contentor e não o de construirmos coisas toscas e desnecessárias que nos torna mais amigos do ambiente.
Nunca percebi bem a ideia destas exposições em que os pais veem as criações de outros pais, mas foi a única vez em que participei. Nos outros anos fui escapando sorrateiramente e nunca mais os meus desperdícios foram expostos. Mas mais estranho do que fazer exposições deste cariz, é mandar trabalhos para os pais fazerem em casa. Acredito que a intenção seja a melhor – de os envolver na escola e no percurso escolar do filho – e que ir construindo uns objetos destes durante o ano até possa parecer inofensivo. Pode ser só de mim, mas fico nervosa quando me chegam a casa com aquelas informações que começam sempre de forma absolutamente enganadora: ‘convidamos os pais a’. Supostamente quem convida oferece qualquer coisa ao convidado e não o contrário. E ao longo do ano os convites vão-se sucedendo: confecionar uma comida aqui, um fato ali, uma maquete para ontem, outra para amanhã, mais uma máscara…
No mesmo sentido em que os pais não devem exigir à escola mais nada do que esta se compromete a oferecer, também não faz sentido que a escola exija dos pais, que já estão assoberbados de trabalho e responsabilidades, trabalhos extra. Uma coisa é ajudar os filhos no que for necessário. Outra é esta mania que algumas escolas têm de dispor do nosso tempo em casa, que já é pouco, para fazer alguma coisa que se lembraram que podia ser gira. Transformar tarefas que podiam ser simples e agradáveis, numa obrigação. E depois há uma chantagem subjacente. O problema não é dizer que não podemos ou que não nos dá jeito à escola, é explicarmos aos nossos filhos, sem que eles achem que somos uns monstros, que não nos apetece depois de um dia de trabalho fora e dentro de casa, ficar acordados até de madrugada a coser fatos ou a fazer presépios com rolos de papel higiénico para no dia seguinte irmos ver qual dos pais é o mais habilidoso e dedicado.
Não me obriguem, por favor, a fazer mais trabalhos de casa. Quando andei na escola já tive a minha dose e não me lembro de ter deixado alguma cadeira para trás para que este castigo continue a perseguir-me depois de tantos anos.